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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Adiar o país...

o novo «compromisso» deste «novo» PSD a viver de saudosismo.

O longo, repetitivo e cansativo discurso de Luís Montenegro, no encerramento do 40.º Congresso do PSD, deixou claro no que o partido se tornará com esta nova liderança: saudosista e 'plagiador' de um passado não muito distante (mas perfeitamente dispensável); focado na conflitualidade política e na quezília populista, em vez de centrado nas exigências e nos desafios do país (transformado, à semelhança da esquerda radical, num partido de protesto); indefinido quanto ao seu posicionamento político, desviado que será do centro; populista na sua retórica e demasiado vago e vazio na estratégia, nas políticas, nas medidas e nas alternativas; e indeterminado quanto à ética política e às linhas vermelhas.
Os quase 60 minutos de discurso, que, pela prática e histórico, seria dirigido para o país e para os portugueses, redundaram num vazio de propostas concretas (e, já agora, concretizáveis) e de respostas direccionadas aos problemas dos portugueses e às exigências da sociedade e dos tempos que atravessamos (a polémica na saúde, o emprego, a educação, a mobilidade, a economia, os impostos, os salários, as reformas, ...). Ficámos a saber que este "novo" PSD - regressado que está a 2011/2015 - é, por definição do seu eleito líder, moderado... nem de esquerda, nem de direita, nem do centro, é, ideológica e programaticamente, moderado. Ou seja... não é nada em concreto e tudo em abstracto; uma indefinição completa. Quantas voltas terá dado Francisco Sá Carneiro. Ele, fundador do partido e o seu principal ideólogo, afirmava, por exemplo, em 1978, no 4.º aniversário do PSD: «Nós, Partido Social Democrata, não temos qualquer afinidade com as forças de direita, nós não somos nem seremos nunca uma força de direita». Consolidando, desta forma, o que espelhava a génese do PSD e social-democracia que estruturou a fundação do partido: «O socialismo democrático que defendemos é garantia de que será o Povo a construir a sociedade em que quererá viver, pondo ele próprio em prática os grandes ideais do Socialismo e da Democracia: Liberdade, Igualdade e Solidariedade». Nunca me lembro de um Sá Carneiro moderado (seja lá o que isso for) na vida, na política e na democracia.
Também ficámos a saber - pelo menos na parte em que não adormecemos - que o "novo" PSD tem, na sua ética e convivência política, umas linhas vermelhas que mais parecem alaranjadas ou amareladas, no que respeita ao extremismo ideológico (homofobia, nacionalismo, racismo, migração, responsabilidade social do Estado, liberdades e direitos, etc.). Luís Montenegro referiu-as apenas em relação às políticas e não aos partidos políticos, movimentos ou eleitorado (já que este lhe faz bastante falta e não tem qualquer constrangimento em 'pescá-lo' em águas turvas). E se dúvidas restassem, veio o próprio Secretário-geral - Hugo Soares, à TSF - desmascarar o seu presidente de partido ao afirmar que "os partidos racistas e xenófobos, assim como fascistas, são proibidos em Portugal, mas que o Chega foi 'ilibado' deste contexto porque aprovado/legalizado, enquanto partido político, pelo Tribunal Constitucional". Ou seja, ficámos a saber que o PSD (este 'novo' que cheira a 'velho') não tem qualquer pejo ou decoro em rasgar os seus valores e princípios éticos e 'piscar o olho' ao extremismo (se isso der jeito).
Ficámos, ainda, bem esclarecidos que o populismo (aliás, o referido discurso tem um conjunto de banalidades, sem propostas concretas, de 'remédios ou mezinhas' políticas para os problemas do país ou basta perceber a agenda mediática e o efeito demagogo da ida do líder do PSD a Pedrógão Grande) e o protesto fácil vão passar a ser rotina e adn partidário, num partido que sempre rejeitou esta forma estéril de fazer política. Isto porque, eleitoralmente (interna e externamente), o 'novo' PSD acha que poderá dar frutos (mesmo que muito questionável e hipotético) demonstrar por tudo e por nada, e só porque sim, que se é contra o PS e contra o Governo, mesmo que isso possa significar ser-se, igualmente, contra os portugueses e contra o país. Aliás, para quem evocou as pessoas como o foco da acção política (como se isso não fosse, em qualquer circunstância, o centro da acção de qualquer partido ou governo... ou até, entidade ou empresa), ficámos a perceber que este 'novo' PSD e o seu líder, Luís Montenegro, têm medo de ouvir os portugueses, do que os portugueses pensam e possam dizer, porque, eventualmente (ou quase de certeza), estarão do lado oposto ao que Luís Montenegro protagoniza.

Houve, no encerramento do Congresso do PSD, um sinal bem claro - aliás, o sinal mais claro de todo o discurso - com honras de capa e chapas na imprensa, deste desfasamento em relação ao país e aos portugueses. Para além da indefinição agora conhecida quanto à questão da necessidade e localização de um novo aeroporto (depois de tanta certeza em 2012). O sinal emergiu do processo da Regionalização.
A temática veio, de novo, para cima da mesa no final de 2021, em dezembro de 2021, a propósito do Congresso da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP). E surgiu com a abertura do Presidente da República para a eventual realização de um referendo sobre a matéria em 2024, secundado pelo Primeiro-ministro, mas... e repetimos, MAS também como temática de reflexão do Congresso da ANMP (realizado, aqui, em Aveiro), o que pressupõe que para os Autarcas eleitos (Assembleias e Câmaras Municipais e Freguesias) a Regionalização não é tabu, mesmo que não consensual (havendo quem a defenda e quem a rejeite).
O que Luís Montenegro conseguiu, no passado dia 3 de julho, foi, acima de tudo, 'matar' o processo da Regionalização, a começar pela discussão quanto à sua necessidade, relevância e importância para o desenvolvimento do país, das regiões e das comunidades. E com os argumentos mais estapafúrdios e surreais.
Qual vidente ou astrólogo, ou adivinho de um jogo dos búzios afro-brasileiro, Montenegro sabe (porque o novo presidente do 'novo' PSD sabe sempre estas coisas) qual será a conjuntura nacional e internacional daqui a dois anos e que impacto é que ela terá na vida e no dia a dia dos portugueses. Portanto, não é possível, em 2024, pela vidência de Luís Montenegro, discutir e ouvir o que os portugueses têm a dizer sobre a Regionalização. Nem em 2025, ano eleitoral autárquico, nem em 2026 com duas eleições (legilsativas e presidenciais)... ou seja, à semelhança da questão do novo aeroporto, estamos perto de ficar 50 anos, ou mais, a marinar a Regionalização (a Constituição de 1976 já falava de regiões, e desde a sua aprovação, na Assembleia da República, em 1991, que nunca saiu da gaveta).
Mas mais ainda... Luís Montenegro sabe que os portugueses, e todos os autarcas e eleitos pelo PSD, não querem saber para nada da Regionalização ou se ela é, ou não, importante para o desenvolvimento e a coesão do país. Esta é mais uma certeza do novo líder do novo PSD. Nem que o país atravesse, neste momento, um polémico (polémica que o 'novo' PSD abraça como único objectivo do confronto político com o Governo), complicado e complexo processo de descentralização/transferência de competências entre a Administração Central e os Municípios, colocando novos desafios e novas exigências na gestão autárquica (algumas de difícil concretização em muitos territórios), e abrindo, ainda mais, o fosso, as assimetrias e os desequilíbrios territoriais no país. Pelos vistos, afigura-se mais interessante a guerrilha interna de minar a ANMP, só para cumprir o desígnio partidário de confrontar o Governo. Enfim...
Além disso, o novo líder do 'novo' PSD acha que a governação de um país (ou de uma região ou de uma autarquia ou de uma freguesia) é estratificada, onde não cabe a ocorrência de múltiplas dinâmicas simultaneamente. Isto é, o líder do PSD acha que os portugueses não conseguem fazer "duas coisas ao mesmo tempo", onde cabem a Regionalização, o custo de vida, os salários, o emprego, a saúde, os transportes, os impostos, etc. É que os portugueses há muito tempo que vivem estas realidades, simultaneamente.
E para concluir, era importante lembrar à nova liderança do PSD e aos novos órgãos de gestão do PSD, principalmente aos que 'brilharam' em redor de Passos Coelho, entre 2011 e 2015, e que agora regressaram do "nevoeiro sebastianista", que foi o próprio PSD que, em maio de 2012 (Lei n.º 22/2012), de forma unilateral, de régua e esquadro e sem se preocupar com as pessoas, os autarcas e as comunidades, traçou as linhas da Reorganização Administrativa do Território e definiu, em janeiro de 2013, o novo mapa das Freguesias (Lei n.º 11-A/2013) reduzindo em 1.168 o número de Juntas de Freguesia em todo o país.
Lembremos... em 2013, no espaço de cerca de 9 meses, houve eleições Autárquicas.
Lembremos... em 2013, o país e os portugueses também tinham prioridades: a Troika, o défice, as contas públicas, o emprego, a saúde, os salários, os impostos, etc., etc.

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(fonte da imagem: JN tag)

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