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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Agosto também se escreve com ‘J’ (parte 4 de 4) - O jejum político pós Pontal

Se a histórica sealy season já não é o que era, também não fará grande sentido que os partidos não consigam reinventar e insistam nas tradicionais (e cada vez mais banalizadas) rentrées políticas. Já nem para consumo interno, nem para o debate político-partidário, servem. A mais recente Festa do Pontal, realizada a 14 de agosto, na Quarteira, é disso claro exemplo.

Do rescaldo da rentrée social-democrata fica o vazio estratégico do partido e nem como “prova de vida política” desta liderança mostrou algum resultado positivo. Resumiu-se a um populismo deprimente e a uma demagogia balofa: o desagravamento fiscal por força da descida do IRS.
Uma proposta que nem à direita, do “insuspeito” parceiro de “almoços estratégicos”, o Iniciativa Liberal, mereceu aplauso. Bem pelo contrário (“IL considera "frouxa" proposta de desagravamento fiscal do PSD”).
Nem é pela questão do “poucachinho”… é mesmo pela incoerência da linha programática do PSD (ainda há poucos meses a prioridade era o IRC), pela inconsequência da sua proposta, pela falta de reconhecimento das medidas já implementadas pelo Governo (por exemplo, quanto ao IRS Jovem, de acordo com o jornal Público de 12 de agosto, o número de beneficiários atingiu 73.684 contribuintes, em 2022, mais do dobro do registado em 2021, num total de rendimentos do trabalho dependente na ordem dos 1.060 milhões de euros. Ou quando as famílias numerosas, com três ou mais filhos, passaram a descontar menor IRS sobre os seus salários a partir de 1 de julho. Ou, ainda, quando, a partir dessa data, com a entrada em vigor das novas tabelas de IRS, os trabalhadores por conta de outrem sentiram um alívio na retenção mensal, traduzindo-se num salário líquido superior ao que auferiam até maio e junho). Mas também pelo irrealismo e irresponsabilidade da proposta, quando é por demais conhecida a conjuntura económica mundial e a pressão da inflação, seja nas famílias, seja nas contas públicas (pela necessidade de implementação constante de medidas de apoio social de carácter excecional).

Além disso, não é politicamente séria a manutenção de um discurso assente numa artimanha financeira: equiparar (ou, propositadamente, confundir) receita fiscal com carga fiscal. E não é, necessariamente, a mesma coisa. Com o aumento do número de empregados, com a economia a crescer (3.º maior crescimento da UE) e (infelizmente) com o aumento dos preços dos bens e serviços por força da inflação, a receita fiscal, obviamente, tende a crescer (mesmo sem aumento da carga fiscal). A contrapartida para o aumento do emprego e das remunerações (por exemplo, os aumentos do salário mínimo), a par com os apoios sociais implementados, seria mais empobrecimento, mais desemprego, menos prestações sociais e salários mais baixos. Era isto que o PSD preferia?

Felizmente para o país e para a maioria dos portugueses, este PSD teima em fazer um intermitente jejum político.

É que os portugueses já há muito que deixaram de ter memória curta. E 2011-2015 não foi assim há tanto tempo (já foi neste século).
A maioria, não esquece…

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(recorte da edição do jornal Público de 3 de outubro de 2012 - sem clonagem)

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(fonte: jornal Expresso - dossier Mais Austeridade)