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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Águas passadas, afinal, movem moinhos

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Pedro Passos Coelho, em nova aparição (para quem queria passar despercebido é demasiado espaço mediático usado) voltou a gerar polémica e frisson no espaço público político.
Há dois dias, 15 de abril, o ex-Primeiro Ministro (um dos piores da história política destes 50 anos de democracia) esteve, na Rádio Observador, no programa “Eu estive lá” à conversa com Maria João Avillez (que tem uns critérios editoriais muito peculiares, para ser soft).
A determinada altura há duas afirmações de Passos Coelho que inflamaram as hostes. E, neste caso, diga-se, quase todas.

Primeiro, Passos critica e acusa, de forma bem explicita, o afastamento de Montenegro quer em relação a si (pelo menos enquanto político), quer à governação no período da Troika, tendo Luís Montenegro assumido a presidência da bancada parlamentar nesse período governativo (de má memória, acrescente-se). Aliás, Passos Coelho é claro: Montenegro quer desconectar-se dessa governação social-democrata liderada por si (Passos Coelho) e que esta liderança de Luís Montenegro, à frente do PSD e do Governo, é resultado da experiência política adquirida sobre a capa de Passos Coelho (enorme modéstia, diga-se). Percebe-se, neste contexto, o constrangimento e a toxidade partidária para o PSD sempre que Passo Coelho surge da sombra e do nevoeiro. Por norma, ou quase sempre, com maus resultados para o PSD.
Aliás, contrariando esse mito criado, e tantas (e por tantos) vezes proclamado aos ventos do enorme capital político que Passos Coelho representa para a direita. Não, não representa. Tanto que não representa que não capitalizou votos para o partido nas recentes eleições legislativas. Bem pelo contrário. Sempre que o “sebastianismo troikano” surge no espaço público há, curiosamente, alguma direita que rasga as vestes e esconde a cabeça na areia (qual avestruz), contrariando a extrema-direita que, em delírio ideológico consegue, numa hora, efetuar três voltas solares.

Segundo, Passo Coelho faz uma revelação muito particular e específica, mas, no mínimo, indecorosa, ao desvendar um hipotético segredo (qui ça, o quarto segredo de Fátima) que dá conta da falta de confiança da Troika em Paulo Portas e que as entidades da Ajuda Externa (FMI, BCE e Comissão Europeia) pretendiam humilhar politicamente o então ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, que é, igualmente, referenciado como tendo sido uma significativa força de bloqueio no seio do Governo.

Há duas questões que irrompem de imediato.

A primeira é: porquê, com que objetivo? Fácil. Passo Coelho tem fixado como objetivo político chegar a Belém, conseguir ocupar a cadeira que já foi do seu “porto de abrigo político-partidário” Cavaco Silva (conforme o próprio revela na entrevista, apesar se ser bem conhecida a sua relação tempestuosa e pouco harmoniosa, quando foi líder da JSD, com Cavaco Silva). E esta é uma estratégia que se afigura óbvia, baseada na sua experiência (fraca) enquanto Governo da Troika para a conquista de um eleitorado e de um capital político que, mais uma vez, Passos Coelho não tem, nem nunca teve, definitivamente.
Por outro lado, embora totalmente a despropósito e de forma abominável e deplorável, Passos Coelho atira a Paulo Portas com o objetivo de diminuir a sua imagem política, afastando, assim, um putativo candidato ao mesmo lugar e no mesmo espetro político (o que até se afigura como uma forte hipótese face à conjuntura político partidária que se vive à e na direita).
Somado os dois contexto junta-se ainda o estado de graça, a roçar a um endeusamento político, que Passos Coelho colhe na extrema-direita.

A segunda questão é, até, mais relevante: quem perde com tudo isto?
A esquerda pode guardar os foguetes, a direita pode guardar as lágrimas e a irritabilidade. O Chega pode fazer o que bem lhe apetecer que é irrelevante e é-me indiferente.
Quem perde com todo este enredo é o próprio Passos Coelho que, com toda a inabilidade política que sempre o acompanhou, deu uma rajada de tiros nos dois pés. Nem um só tiro, nem um só pé. Foi a descarga completa das munições.
As acusações a Montenegro, logo agora no arranque da legislatura e com os sobressaltos conhecidos, só servem para que o feitiço se volte contra o feiticeiro e a imagem de Passos, junto ao partido, a Montenegro e a parte da direita, sai completamente beliscada e denegrida. Seja pelo aproveitamento político, seja pelo ressabiamento, seja pela falta de ética e de modéstia política, seja por tudo e mais alguma coisa. Saiu tudo errado.
No caso de Paulo Portas, quem acaba por não merecer confiança nenhuma é o próprio Passos Coelho que dá uma colossal machada na sua imagem política. Ninguém gostará de trabalhar com Passos Coelho, no futuro, quando pode vir a ver a sua privacidade e o seu desempenho político e partidária exposto e inferiorizado na praça pública, só por capricho partidário de Passos e para satisfação do seu ego.

De volta à excelsa sabedoria do povo: “Quem semeia ventos colhe tempestades”.