Alta Tensão na Europa
O que se esperava poder ser resolvido com mais ou menos custo e suor, independentemente do recente período eleitoral grego e da formação do seu governo, tem-se tornado num verdadeiro inferno para todos: Grécia, União Europeia, FMI, credores e, indirectamente, para os países recentemente intervencionados e periféricos na UE.
Não se vislumbra qualquer cedência substantiva, de parte a parte, que permita terminar o braço-de-ferro existente. E nesta fase, face aos pressupostos e à realidade que está em cima da mesa, acresce a cada vez mais previsível rotura negocial e o default grego, a que se junta a previsível saída da Grécia da Zona Euro. Resultado… ninguém ficará a ganhar. Nem tanto pelo que financeiramente tal situação possa representar, mais engenharia, menos engenharia; mais austeridade, menos austeridade; mais mercado, menos mercado; mais ou menos sacrifícios para os gregos; sendo certo que, obviamente, os primeiros “perdedores” serão os credores.
A Grécia terá um futuro complicado interna e externamente, nomeadamente na sua relação europeia fora da Zona Euro. Aos gregos avizinham-se dias muito complicados, elevados sacrifícios, conflitualidade social e política, sendo que, neste último âmbito, poderá ter mais impactos negativos para o Syriza o falhanço negocial do que a cedência nalguns princípios eleitorais defendidos.
E a União Europeia? O que perderá ela? A tensão é enorme. Não pela eventual saída, por si só, da Grécia da Zona Euro. A tensão europeia residirá na dificuldade que as instituições europeias, nomeadamente o BCE e o Parlamento, em prever, planear e precaver, os impactos que tal realidade pode provocar na economia, em alguns países europeus, na própria credibilidade e consistência da União Europeia. No fundo, não está a ser conseguido, pela União Europeia, prever o efeito sistémico do fracasso negocial e do futuro grego. E não vale a pena Passos Coelho vir com paninhos quentes porque Portugal pode mesmo “cair”: os juros da dívida portuguesa subiram e apenas conseguiu colocar no mercado (para financiamento) o mínimo de dívida pública (750 milhões de euros).
Mais ainda… politicamente há ainda outro nervosismo europeu. Uma significativa aproximação, demasiada aproximação, da Grécia à Rússia tendo em conta o actual clima de conflitualidade institucional por causa da Ucrânia. Algo que, politicamente, será uma vitória para Putin, quem sabe a salvação grega e uma importante derrota europeia com repercussões na sua relação com a NATO e os Estados Unidos.
A todos os níveis, não está fácil a relação com o Olimpo. Os Deuses devem andar loucos.