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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Antevisão da alegada "cambalhota migratória"

Imigrantes - António Pedro Ferreira (Expresso).jp
(crédito da foto: António Pedro Ferreira, jornal Expresso)

Antecipando a minha visão sobre parte da entrevista de Pedro Nuno Santos ao jornal Expresso (quinta-feira, 23 de janeiro), amanhã, no Diário de Aveiro.

Primeiro, importa referir que a entrevista é muito mais do que a referência à imigração. É sobre a reforma da justiça, os Estados Gerais do PS e a afirmação de alternativa governativa, as presidenciais, a chamada “lei dos solos”, entre outros.
Segundo, mesmo na questão da imigração, discutível e criticável a forma e algum do seu conteúdo, Pedro Nuno Santos acentua o que o PS já tinha afirmado em junho de 2024, quando o atual Governo revogou o princípio da “manifestação de interesse”.

A par disto, discordando do líder do PS quanto aos efeitos do processo da “manifestação”, entendendo que determinadas entraves burocráticas, mesmo essas desestruturadas e desreguladas, são mais promotoras da imigração ilegal do que o seu contrário, a verdade é que para Pedro Nuno Santos e para o PS, e para qualquer posicionamento humanista, o problema não está nos imigrantes, nos que procuram o país em busca do natural e humano sentido de sobrevivência. A questão está na impreparação do país e da sociedade para o seu acolhimento e a ausência de políticas de integração, sem, necessariamente, se perder o valor da multiculturalidade.

Tudo isto é bem diferente do populismo demagogo das perceções de insegurança (que umas vezes dá jeito dizer que existem, outras dá jeito dizer que afinal… ) do Primeiro-ministro e dos deploráveis atos de instrumentalização política das Forças de Segurança, que apenas aumentam o sentimento de indiferença, de exclusão, de segregação, de ódio e de (isso sim) insegurança. E ainda mais diferente ou diferenciado da posição hipocritamente cómoda do “nim” ou da “apatia política e governativa” que dá jeito para apontar, injustificada e erradamente, o dedo do radicalismo a quem defende o humanismo, a democracia e os direitos humanos.
E nisto, não há nenhum volte-face do líder do PS e, muito menos, qualquer aproximação à narrativa do Governo (escusado será dizer que à extrema-direita nem mesmo em sonhos).

Mas também é importante realçar que o discurso mercantilista da imigração, só porque o país precisa de mão de obra, seja ela qualificada, ultraqualificada ou nem por isso, não comporta nada de dignificante para a condição humana de quem, por desespero ou por mera vontade própria, procura Portugal como “segunda casa” (para muitos, a única casa ainda possível). Assim como não comporta nada de positivo, de benéfico, de realista e de humanista jogar com os imigrantes conforme dá mais jeito à política e ao radicalismo.