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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Às portas da crise... o governo "autodesconfinou"

Afinal, em tempos de guerra, mudam-se generais (e com muitas estrelas)

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É, hoje, mais que claro que o Governo, mais precisamente António Costa, tem um problema político interno, que não será de fácil (di)gestão: chama-se Mário Centeno.

Abrandada (pelo aparentemente) a principal vertente da pandemia - a saúde - entrando já, com sinais evidentes, na preocupante vertente das respostas sociais, afiguram-se, para bem breve, os sintomas e os impactos na economia (nacional e global).

É neste contexto que, no mínimo, surge como curiosa e surpreendente a opção política e governativa de António Costa ao recorrer a António Costa Silva para traçar as políticas económico-financeiras - o plano de recuperação económica - que permitam ao Governo e ao país (e a todos nós) encararmos os colossais e complexos desafios sociais e económicos que se avizinham.

A curiosidade não está na opção em si, até porque essa já foi recorrente em António Costa (basta recordar os casos dos ainda ministros Mário Centeno e Siza Vieira).
A surpresa está no timing, no contexto e na forma.

À cabeça... é, neste momento, (e já o era também AQUI, no início deste mês com o caso Novo Banco) mais que evidente a saída do Governo do ministro Mário Centeno. Saída que deverá coincidir com o final do mandato do ministro no Eurogrupo (muito por culpa da gorada recandidatura ao cargo e da forma como a União Europei está a tratar da ajuda aos Estados-membro para o combate à crise social e económica que já se vive), a apresentação, na Assembleia da República, do Orçamento Suplementar e o final do mandato de Carlos Costa como Governador do Banco de Portugal.
Se este contexto era já, em si mesmo, um desfecho há muito anunciado (final da anterior e início desta legislatura) torna-se evidente que o Governo irá perder o seu melhor activo político e ministerial. Aliás, é curioso ver-se, agora, a forma como António Costa deixa cair o seu "Ronaldo das Finanças", seja por desgaste, por pressão de alguns ministros adversos aos constrangimentos de acção impostos pelo (ainda) Ministro das Finanças ou pelos "parceiros" de esquerda que viram sempre em Centeno o "papão da austeridade" e da imposição Europeia.
É ainda mais surpreendente que um governo tenha um activo tão importante na sua estrutura e entregue a terceiros o planeamento de acções políticas para o país e para a governação. Não sendo Mário Centeno um bluff governativo, só se compreende a opção de António Costa pela eminente saída do Governo do ministro das Finanças.

A outra surpresa tem a ver com a opção política do Primeiro-ministro.
Não é fácil compreender e, será ainda, muito difícil a António Costa explicar o recurso externo para a definição e estruturação de políticas de gestão governativa quando assistimos, nesta legislatura, a um dos governos com mais Ministros, Secretários de Estado e Assessores da história da democracia portuguesa.
Das duas uma... ou António Costa se esqueceu de alguém ou o Governo tem alguma dose de incompetência governativa, o que é ainda mais preocupante.

Além disto, o recurso ao presidente da Partex coloca ainda algumas arestas políticas que António Costa tem que limar. Basta um ligeiro exercício de memória para nos lembrarmos das fortes críticas de António Costa Silva à Geringonça de 2015 e ao complexo processo da exploração de gás no Algarve. Não será, por isso, de ânimo leve que o Ministro do Ambiente ou o Ministro das Infraestruturas encarem com bons olhos esta opção política do Primeiro-ministro. Assim como não será de forma tranquila e serena que alguns ministros e/ou secretários de Estado encarem uma eventual remodelação governamental.
Mas não será só e apenas no seio do Governo que poderá haver algum "mau-estar" político. Para o BE e para o PCP esta realidade deverá ser uma forte machadada na já fragilizada relação entre a Esquerda e o Governo. Bloquistas e Comunistas serão os principais críticos (para além de um ou outro ministro e da ala mais à esquerda do PS) desta decisão de António Costa, já que nunca aceitarão um plano "mais privado e mais liberal" (ou menos kenesiano) das políticas e medidas sociais e económicas para o país.

Por último... a maior surpresa.
Chega a crise, surgem as maiores dificuldades, afiguram-se complicados e difíceis tempos de "vacas magras", e a primeira resposta do PS e do Governo Socialista é, curiosamente, o recurso ao Privado e a uma economia, marcadamente liberal e de mercado, para que sejam encontradas soluções e planos de governação.
Governar com o esforço dos portugueses e o trabalho do PSD (com muitos erros, é certo) ao longo de 4 anos de Troika, mas que culminaram com uma saída limpa e a restauração da credibilidade do país e a solidificação das contas públicas, ou com os bons ventos da Europa e da conjuntura económica Internacional, é fácil, dá para fazer umas "flores" e ser populista.
Às primeiras dificuldades PS e Governo ficam de mãos atadas, à nora, sem rumo, nem estratégia governativa.
E não é na "esquerda da geringonça" que encontram a tábua de salvação.