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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Até as Desertas e as Selvagens votam sempre no mesmo

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Apesar de alguma esperança numa alteração do ciclo governativo e político no Arquipélago da Madeira, a verdade é que os resultados eleitorais as Eleições Regionais deste domingo não são, na sua globalidade, surpreendentes.
A surpresa mais relevante é, face à aritmética política, a possibilidade de voltar a haver eleições com o chumbo do Pograma do Governo, que será apresentado na Assembleia Legislativa Regional e que tem carácter vinculativo para que o Governo assuma a plenitude das suas funções.

Quanto aos resultados, mesmo sem o garante da governabilidade e em queda (há já alguns anos) em número de votos e em número de deputados regionais, o partido mais votado foi o PSD. E isso é um facto e apresenta Miguel Albuquerque como o vencedor. Mas não o único. Porque foi notório o crescimento do partido JPP (Juntos Pelo Povo) neste processo eleitoral, quase que duplicando o número de deputados em relação às eleições de 2023 (de 5 para 9) e conquistando mais cerca de 8 mil votos.
Quer o PS (perspetivando outro resultado), quer o Chega (do populismo de uma vitória arrasadora a uma mão cheia de nada), quer o IL e quer o PAN mantiveram o mesmo número de deputados e, basicamente, o mesmo número de votos expressos. Não tendo havido, para estes partidos, nem benefícios, nem penalizações pela repetição do processo eleitoral de 2023.
O CDS, não sendo possível comparar com 2023 porque surge em coligação com o PSD (em relação a esta, o somatório significa a perda de 2 mandatos e cerca de 5 mil votos) perde, no entanto, 1 deputado e cerca de 3 mil votos, se comparado a 2019.
Já o BE e o PCP, de facto, têm uma pesada derrota porque, para além da queda de votantes, perdem qualquer representatividade parlamentar.
Face a este panorama, será necessário que Miguel Albuquerque tenha, novamente, a necessidade de acordos, seja na formação do Governo, seja no apoio na Assembleia Legislativa Regional para que o Programa do Governo tenha aprovação. E terá de contar com mais algum partido do que o eventual natural apoio do CDS, parceiro na governação nacional, porque, desta forma, só conseguirá somar 21 deputados dos 24 que balizam a maioria na Assembleia Regional.

Mais do que uma eventual não aprovação do Programa do Governo e um novo vazio de poder, ou mais do que o inconsequente e incongruente hipotético acordo PS + JPP (apenas somam 20 deputados e precisariam do apoio de mais forças políticas, excluindo PSD e Chega, e não é previsível, pelos antagonismos partidários, o apoio do CDS e do IL), o que esta conjuntura política madeirense nos dita, após o processo eleitoral, é uma necessária e importante reflexão, de todos, incluindo o próprio PSD:
1. Quais as razões e as causas para que nunca tenha havido alternância governativa no Arquipélago da Madeira, que é a única região do país onde permanece um “cacique partidário” (PSD), e os impactos na democracia?
2. Sendo a Madeira a região com o segundo menor PIB nacional (embora o terceiro valor do PIB per capita), sendo a Madeira a segunda região com a taxa de pobreza mais elevada do país, sendo a Madeira a segunda região com a maior taxa de desemprego (7,0%, em 2022, acima da média nacional que foi de 6,0% - dados INE), os madeirenses votaram sempre, como primeira opção governativa, no PSD.
3. Face a esta realidade, perante uma candidatura adversa ao líder nacional do PSD e contestada e criticada por Alberto João Jardim (mesmo depois da vitória de domingo), seria importante e urgente perceber porque é que a oposição, nomeadamente o PS, não conseguiram em 14 atos eleitorais, desde 1976 (há 48 anos), encontrar no universo do eleitorado madeirense uma alternativa de poder.

Tendo a Madeira deixado de ser um "Jardim", em 2015, a verdade é que desde 1976 continua a ser uma "laranjal", sem alternativa. Infelizmente... para os madeirenses, para a Madeira e para a democracia.