Até setembro é sempre a piorar
(fonte da foto: RIA - Rádio Universitária de Aveiro)
Apesar de ainda(?) faltarem cerca de 8 meses para que os 308 municípios e as cerca de 3.400 freguesias, dependendo do resultado da aprovação dos processos pendentes de desagregação, fiquem a conhecer o seu novo ciclo de gestão autárquica, “o verão quente” da política local já fervilha de norte a sul do país, independentemente da dimensão ou peso mediático dos territórios.
São os ciclos autárquicos (3 exercícios consecutivos de gestão autárquica) que terminam por força da imposição normativa de limitação de mandatos autárquicos (Lei n.º 46/2005, de 29 de agosto) ou aqueles que, por diversos contextos (pessoais ou conjunturais) são interrompidos antes do terceiro mandato; são, mais ou menos pacíficas, as escolhas de candidatos (e ainda não chegámos às listas); é o fenómeno, ainda ténue, mas crescente e que não tem merecido particular reflexão, das listas de cidadãos eleitores, os denominados “movimentos independentes” (que deverão crescer em relação a 2021); e é o impacto que terá o “fim de linha política” para 98 presidentes de câmara (quase um terço) nestas eleições autárquicas, seja pela “janela de oportunidade” que esse contexto gera nos partidos ou movimentos na oposição, seja pela exigência da escolha das sucessões que garantam alguma esperança de continuidade, com os habituais conflitos e atritos que isso, por norma, provoca entre estruturas partidárias locais, distritais e nacionais.
Daí que não seja, de todo, uma surpresa a recente declaração do ainda presidente da autarquia aveirense, Ribau Esteves, que afirmou desejar uma solução de continuidade na candidatura autárquica do PSD à Câmara de Aveiro e que essa solução está no atual executivo municipal, independentemente de se desconhecer o acolhimento (ou não) desse desejo quer nas estruturas políticas locais (concelhia e distrital), quer na direção nacional, nomeadamente em Luís Montenegro. Mas isso é um problema interno do PSD, local e nacional (já são crescidinhos, que se entendam).
A questão é que este desejo autárquico de Ribau Esteves, para além da legitimidade e naturalidade democráticas de ter a esperança da continuidade do seu projeto de governação local, resulta também no reforço, igualmente legítimo e democrático, nomeadamente por parte do PS Aveiro, de apresentar um compromisso de rotura e de alternativa de gestão autárquica do Município de Aveiro, de um novo projeto de desenvolvimento territorial, de um olhar diferente sobre a “cidade” (no sentido lato, enquanto espaço geográfico e social). Um novo compromisso que tem duas vertentes.
A primeira, ao contrário do que a narrativa corrente tem pretendido incutir, não é um regresso ao passado, mesmo não o renegando (porque não há nada para renegar). Os tempos de 2025 são, substancialmente, bem diferentes dos de 1998-2001 e 2001-2005 (já lá vão duas décadas), quer do ponto de vista político, económico, social e conjuntural, as pessoas são outras, o município exige e suscita outros e distintos desafios.
A segunda, pelo projeto de rotura com a governação local dos últimos anos, pela nova visão e conceção que traz para o município (até essa com particulares diferenças do governo local de há 20 anos), pela experiência autárquica e política que, neste momento, não se vislumbra noutros quadrantes, nem mesmo na tão desejada continuidade do engenheiro Ribau Esteves.
Mas neste fervilhar da política local, olhando, até, para o panorama geral (como o de Lisboa, por exemplo) há uma coisa da qual não comungo com o anseio de Alberto Souto: a urbanidade e elevação do confronto eleitoral até ao dia das eleições. A pressão da incerteza do resultado de setembro, a insegurança quanto à aceitação da continuidade do projeto autárquico atual face à vontade de mudança que os aveirenses possam expressar, a diferença de capacidade política, não vai suavizar narrativas, nem discursos e, muito menos, mitigar suspeições e inverdades (para não dizer falsidades ou mentiras). Muito menos sob a capa demagógica de que o confronto político não questiona valores e juízos de personalidade, sabendo-se que é, precisamente, neste campo que os debates e as críticas são sempre mais ferozes, quando é notória a falta de argumentos e de propostas consistentes. E não vai melhorar até setembro…