Atirar pedras e esquecer os telhados de vidro
A política sem lógica, sem conformidade ou despejada de coerência não é mais do que um mero exercício de populismo ou de pura demagogia eleitoralista. Em plena campanha e confronto eleitoral a falta de redobrado cuidado deturpa a mensagem e a retórica e apenas favorece radicalismos e extremismos.
À mistura de um conjunto de promessas de medidas e políticas, mais sustentadas em “crenças e credos” do que realistas e demonstrativas de alternativa credível, o PSD acusa o PS de apresentar um conjunto de candidatos às próximas eleições de 10 de março que, na opinião de Luís Montenegro, divulgada em vídeo partilhado nas redes sociais do partido, são más porque apresentam os mesmos rostos destes oito anos de governação, sem grandes novidades.
A história política destes quase 50 anos de democracia tem demonstrado que, por norma, a elaboração das listas de candidatos a apresentar, pelas diversas forças partidárias, nos diversos ciclos eleitorais não é isenta de inúmeros casos, críticas, protestos e, até, demissões.
Neste caso, e por enquanto, curiosamente e contra a corrente, o PS apresentou um conjunto de nomes que mereceu aprovação generalizada, sem atropelos ou críticas, demonstrativo de uma coesão partidária interna que “educa” e é exemplo para grande parte dos restantes partidos, quando muitos esperavam uma fratura resultante do processo eleitoral interno decorrido em dezembro. E, ainda, são também exemplificativos (os nomes apresentados) de uma coerência política e estratégica relevante: a assunção de um legado que não se renega, que tem um significativo valor político para os portugueses e para o país e que o PS pretende aprofundar, concretizar o que ficou pendente e melhorar o que se afigura menos consistente, tal como espelham (com mais ou menos “mentiras”) as sondagens até agora publicadas.
E é neste sentido que a narrativa do PSD falha redondamente. Porque nada há de mais perigoso e fantasioso no discurso propagandista quando se atiram “as pedras” sem cuidar “dos telhados de vidro”. Basta olhar para alguns dos nomes conhecidos das listas do PSD às próximas legislativas para se perceber o que é repescar candidatos no baú do período “passista”, bem pior do que os contextos menos corretos da governação de António Costa. Como exemplos, não será muito diferente da ação governativa de 2011 a 1025 os regressos de Teresa Morais, Pinto Luz, Aguiar Branco, Pedro Alves ou Leitão Amaro. Já para não falar do outro lado da moeda da coligação, com os nomes de Nuno Melo e Paulo Núncio.
Mas a incoerência e o populismo eleitoralista não se ficam por aqui. Falar ou criticar os nomes do passado recente do PS, que o mesmo pretende consolidar e preservar, quando para consolidar um projeto político eleitoral como esta “recauchutada AD” se apresenta como estrelas mediáticas, em plena convecção, nomes longínquos como Paulo Portas (para quem 2015 está mais cravado na garganta do que um espinha de bacalhau... se o ressabiamento matasse), Santana Lopes, Graça Carvalho ou Leonor Beleza diz muito mais do que significa “regressar ao passado”. Sem esquecer o recurso, mais ou menos estratégico, mesmo que estrategicamente falhado e contraproducente, a Cavaco Silva e aos distantes tempos de 85 a 95 (completamente a despropósito e incomparáveis com o contexto e desafios atuais).
A coerência é uma coisa chata e incómoda, de facto.
(fonte: infografia jornal ECO)