Cor da moda?! Laranja-choque...
ainda no rescaldo do 39.º Congresso, a caminho das Legislativas a 30 de janeiro 2022
(créditos da foto: psd.pt)
Desde o momento em que acontecem no rescaldo de eleições directas internas, os Congressos Nacionais passaram a ser, fundamentalmente, o corolário da afirmação de um líder vencedor antecipado.
Mas não no 39.º Congresso do Partido Popular Democrático - Partido Social Democrata (PPD-PSD), que se realizou há uma semana, em Santa Maria da Feira.
A conjuntura política actual, consequência do chumbo da proposta do Orçamento do Estado para 2022, apresentada pelo Governo de António Costa, e a respectiva dissolução da Assembleia da República, determinada por Marcelo Rebelo de Sousa; a proximidade das eleições legislativas, marcadas para daqui a pouco mais de um mês (30 de janeiro 2022); e o contexto (e a forma) como aconteceram as Eleições Internas no PSD, com mais uma (e já lá vão três) "guerrilha oposicionista" à liderança de Rui Rio, retiraram toda a carga da tradicional normalidade da vivência partidária que tem sido, mais ou menos, comum em anteriores congressos.
Presidente do PSD desde 2018 (fevereiro), Rui Rio, em quatro anos, venceu, internamente, três robustas batalhas:
- conquista a liderança do partido em 2018, após o desaire do partido nas autárquicas de 2017 e os 8 anos de liderança de Passos Coelho, com uma Troika à mistura (54,15%, frente a Santana Lopes);
- vence a primeira "guerrilha interna" em 2020, numa eleição a duas voltas, depois de um ano de 2019 de forte oposição (53,21%, frente a Luís Montenegro - deixando Miguel Pinto Luz para trás, na primeira volta, com apenas 9,44% dos votos... pouco mais de 3.000 votos);
- e finalmente, neste ano, no final de novembro (no dia 27), volta a consagrar-se politicamente frente a Paulo Rangel (52,46%), no rescaldo de mais uma inqualificável tentativa de "tomada do poder". Só por si, este percurso - ao qual acresce a evolução dos resultados eleitorais nas Europeias 2019, Legislativas 2019 e Autárquicas 2021 - faz de Rui Rio um vencedor e demonstra a sua capacidade de liderança do partido, a capacidade de conquistar as bases do PSD e o eleitorado social-democrata, apesar de eu não acreditar neste "silêncio hipócrita" da oposição interna (após janeiro 2022 logo veremos).
Mas Rui Rio ganhou muito mais neste 39.º Congresso, excluindo, desde já, o Conselho de Jurisdição.
Confirmou, num resultado melhor que em 2020, uma maioria da Direcção no Conselho Nacional e garantiu a Mesa do Congresso.
Ganhou (consolidou) a legitimidade interna (catapultado pelos resultados eleitorais das últimas autárquicas e, principalmente, pela "reconquista" da capital), uniu o partido (pelo menos em relação às eleições, já que não tenho a mesma certeza que tenha unido o partido em si mesmo) e minimizou e relativizou a oposição (mesmo que esta continue a "andar por aí").
Conquistou, por mérito próprio, o direito de se apresentar, ao eleitorado social-democrata e aos portugueses, como candidato a Primeiro-ministro, nas eleições de 30 de janeiro 2022. Mesmo que isso represente, obviamente, uma responsabilidade acrescida e um maior risco político.
Pela terceira vez, Rui Rio convenceu a maioria dos militantes de base, uma grande parte do eleitorado social-democrata e muito do eleitorado flutuante da importância do Centro político (e do voto ao centro) para a democracia, para a afirmação da génese ideológica do PSD e do seu histórico fundador (Sá Carneiro), para a estabilidade e desenvolvimento do país. Aliás, uma coerência discursiva e programática que sempre demonstrou: "Primeiro, Portugal. Depois, o partido. E, por fim, a circunstância pessoal".
Mas Rui Rio, e por natural consequência o PSD, ganharam, ainda, muito mais neste Congresso e na caminhada (ainda curta, é certo) pós vitória clara nas directas de novembro (de forma inesperada para alguns profetas de um "sebastianismo" recente). Ganharam parte do país (basta lembrar as últimas sondagens que revelam um empate técnico entre PSD e PS) e ganharam, principalmente, a notória e evidente preocupação do PS e da esquerda que "alimentou" a governação entre 2015 e 2021 (BE e PCP). De tal forma que torna-se surreal e deprimente a tentativa, mais que falhada, do PS, BE e PCP em quererem colar o PSD a uma direita que ultrapassa uma linha vermelha que não pode ser transposta (apesar do - erróneo - contexto açoriano).
Torna-se cada vez mais claro que a disputa eleitoral de 30 de janeiro se fará entre PSD e PS, onde o voto útil (já tão badalado por António Costa e Rui Rio, para a conquista de uma maioria) terá um peso extremamente significativo. O PSD deixará ao extremismo uma eventual flutuação de eleitorado da direita que não se revê no centro e, sem qualquer constrangimento lexical, no chamado bloco central. Já o PS tentará pescar nas águas do voto útil à esquerda (com o argumento de manter o PSD afastado do poder), nomeadamente junto daqueles que não se reviram na opção estratégica de BE e PCP no chumbo do Orçamento do Estado 2022.
A questão, a partir da estratégia política apresentada por Rui Rio e aprovada no Congresso, é perceber o que acontecerá no dia 31 de janeiro, no day after eleitoral.
António Costa (também ele sob forte pressão interna, mesmo que camuflada e disfarçada, da ala esquerda afecta a Pedro Nuno Santos ou do regresso das alas guterristas e seguristas) manterá a sua afirmação recente ao declarar definitivamente encerrado o capítulo "geringonça" (apesar do arrependimento político de bloquistas e comunistas, a quem cabe pagar, eleitoralmente, a factura da crise política)? Estará o PS - que, não ganhando as eleições, terá uma grave crise interna, indiscutivelmente - pronto e disponível para ter a mesma atitude e postura do PSD, caso não haja uma maioria resultante da vontade do povo nas eleições?
Por isso, tendo sempre na equação esta actual motivação da "onda laranja", estas são as principais dúvidas e questões para 30 de janeiro:
1. funcionará o voto útil (no PSD ou no PS)?
2. caso o PSD vença sem maioria, o PS (provavelmente sem António Costa) dará a mão a um governo social-democrata?
3. caso o PS vença sem maioria, aceita a negociação com o PSD ou, contrariando o actual discurso de António Costa, volta a virar-se para BE e PCP (ultrapassando, de novo, as linhas vermelhas de Mário Soares)?
4. ou, no limite, voltará o país (e bem) a ter o regresso do Bloco Central?
Para já... o foco da conjuntura política do momento centra-se mais no PSD do que no próprio PS e no Governo (que irá, quase que de certeza, usar a pandemia como "arma de campanha eleitoral").
Haverá muito para avaliar antes e depois de 30 de janeiro.
Neste caso em particular, não haverá outra expressão que retratasse melhor os próximos tempos; Ano Novo, Vida Nova… mesmo que o “ano novo” (político) surja a 30 de janeiro.