Da série... as pessoas e o país #05
(infografia: jornal ECO)
A propósito do primeiro dia de trabalhos no Parlamento para a discussão do Programa do Governo, Manuela Ferreira Leite, na CNN Portugal, trazia de volta o chavão e o mito populista e eleitoralista do empobrecimento de Portugal.
Nunca se colocou em causa o facto do país ainda ter um longo e penoso caminho a percorrer para igualar a média europeia e ganhar dimensão financeira, económica e social que permite colocar Portugal no pelotão da frente da União Europeia.
Manuela Ferreira Leite tem, naturalmente, um leque de fontes e conhecimento, quer pela sua formação, quer pela sua anterior experiência governativa (mesmo que distante no tempo). Mas Manuela Ferreira leite tem também, por uma questão de ética e honestidade política, dar nota e constatar os factos.
Enquanto o papão do empobrecimento (entre outros parâmetros e métricas) foi repetidamente usado na campanha eleitoral para o combate partidário, de uma forma irrealista, populista e demagógica, a verdade é que, divulgados os dados/relatório do Eurostat, estranhamente o país e o espaço público político mediático (com a comunicação social à cabeça (exceção feita, diga-se, para o jornal Eco) silenciou-se, acobardou-se e abafou a realidade.
Afinal o país não só não foi ultrapassado pelos países do leste da Europa, como a Roménia e a Hungria (tão excessivamente embandeirados), como subiu o valor do PIB per capita em relação à média europeia, situando-se nos 83% (+4% que em 2022), ficando 17% abaixo da média da EU. Mas, mesmo assim, ultrapassando a Polónia e a Estónia e encurtando a diferença para países com a Lituânia ou a vizinha Espanha.
E importa também recordar à Dra. Manuela Ferreira Leite e os “arautos profetas do empobrecimento”, os valores publicados pela Pordata (com base no INE e no Eurostat) sobre o empobrecimento ou a taxa do risco de empobrecimento em Portugal e na Europa.
Após as transferências sociais (os apoios e benefícios do Estado Social): em 2010, Portugal apresentava uma taxa de 18% da população. No período da Troika, Portugal registou o valor mais alto da última década, 19,5% em 2013 e 2014. Em 2022, o valor situou-se nos 17%.
Mesmo tendo como referência o risco de pobreza sem qualquer apoio social, em 2010 o valor da taxa era de 42,5%, em 2013 47,8% e em 2022 foi de 41,8%.
Considerando o relatório do Eurostat para a taxa de população em risco de pobreza ou exclusão social, Portugal estava, em 2015, significativamente acima da média europeia: 24% na EU e 26,4% em Portugal. Em 2022, a média europeia situou-se nos 21,6% e Portugal registou uma taxa de 20,1%. Abaixo da, pasme-se, poderosa Alemanha, da França, da Espanha, da Estónia, da Irlanda, da Letónia, da Lituânia, da Itália, e muito longe da Roménia e da Bulgária.
Mesmo assim, há quem continue a teimar, e de forma deliberada, numa falácia e numa mentira de uma curva descendente no desenvolvimento do país. Vão ter de encontrar outro argumento porque este revela-se contraditório.
E, pelos vistos e pelas contas, não colherá também a questão do choque fiscal para os portugueses, porque isso, afinal, revelou-se na maior falácia, engodo e bluf do programa do Governo (deixemos para outras núpcias).