Em cada número, muito mais que um rosto... uma vida.
Não à violência...
O princípio é, ou deveria ser, mais que óbvio: a violência, como manifesta forma de atropelo aos mais elementares direitos humanos e um atentado à dignidade humana, é condenável e reprovável.
Se a isto acrescentarmos a "fragilidade" (no seu sentido mais lato) da vítima, passa a ser repugnante.
Em todos os casos, é CRIME.
No caso da violência contra as mulheres, representa um medievalismo repulsivo, uma total incapacidade na integração e aceitação do outro (seja qual for a realidade) em contexto de igualdade e paridade, um retrocesso civilizacional que a sociedade não consegue resolver ou exterminar, volvidos 21 séculos na era 'DC' e mais uns significativos milénios de existência 'AC'.
Os números são, em relação à parte mais visível e mediática desta energúmena realidade, obscenos e inaceitáveis:
- até 25 de novembro de 2022, morreram 28 mulheres: 22 em relações de intimidade; 3 em contexto familiar; 1 por 'discussão pontual'; 2 por apurar as causas.
- a mulher vítima mais nova tinha 27 anos e a mais velha 74.
- o ano de 2021, na sua totalidade, registou 19 vítimas mulheres. O ano de 2022 ainda não terminou.
- 12 dos 22 femicídios em contexto doméstico estavam sinalizados com existência prévia de casos de violência.
- estes femicídios deixaram 46 crianças órfãs de mãe, das quais 21 são menores.
- em Portugal 85% das vítimas de violência doméstica são mulheres.
- a PSP deteve 802 pessoas por violência doméstica e registou 13.285 queixas. Já a GNR, deteve 1.167 suspeitos e registou 11.176 crimes. Ambos os dados representam significativos aumentos (absolutos e percentuais) dos crimes, em relação a anos anteriores.
- um estudo da ONU revela que, no mundo, uma em cada três mulheres é vítima de violência doméstica.
(fontes: Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA), Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), PSP, GNR, União das Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), Expresso, Renascença e Sapo).
Mas estes trágicos e condenáveis contextos são a parte mais visível de uma realidade, infelizmente, mais lacta e abrangente, com um "lado lunar" ainda muito cinzento.
A violência contra as mulheres tem também uma vertente "não física", igualmente reveladora da perda da dignidade humana e do manifesto ataque aos direitos fundamentais: as desigualdades nas oportunidades profissionais; as diferenças salariais; o assédio sexual e laboral; a violência psicológica; os desequilíbrios, preconceitos e estigmas que a sociedade impõe à condição feminina.
Como mero exemplo... segundo a Pordata, em Portugal, «o fosso salarial entre homens e mulheres aumentou de 10,9%, em 2019, para 11,4%, em 2020. O valor corresponde a uma perda de 51 dias de trabalho remunerado para as mulheres» (estudo apresentado em março de 2022).
E isto também é violência...