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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Em política as palavras contam... e muito.

A proposta da (ainda) deputada do Livre na Assembleia da República, Joacine Katar Moreira, que prevê a devolução às antigas colónias portuguesas de património cultural e histórico que faz parte do acervo museológico nacional é, no mínimo, discutível e polémica. Mas isso não justifica, nem legitima, que, ao abrigo da impunidade parlamentar ou da suposta liberdade de expressão, se use uma retórica clara e inequivocamente xenófoba e racista.
A ironia, ou, no caso, o completo falhanço humorístico, não fundamenta, nem justifica, um deplorável ataque à dignidade humana espelhado na afirmação do deputado do Chega na Assembleia da República, André Ventura, que sugeriu que Joacine seja "devolvida ao seu país de origem", o que tornaria tudo "muito mais tranquilo para todos... inclusivamente para o seu partido! Mas sobretudo para Portugal!". Mesmo que Joacine Katar Moreira tenha nacionalidade portuguesa, apesar de ter nascido na Guiné-Bissau.

As declarações de André Ventura não têm qualquer tipo de legitimidade, de justificação, nem podem ser aceitáveis.
Primeiro... porque a liberdade de expressão não legitima qualquer ataque de ódio ou racista.
Segundo... porque a impunidade parlamentar não justifica um ataque desta natureza a alguém que é democraticamente eleito e um par entre os pares.
Terceiro... porque tem que haver limites a uma suposta retórica política, a uma criticável demagogia que fere a dignidade de qualquer cidadão, sob a falácia do confronto político.

Daí que sejam de aplaudir todas as criticas ao ignóbil discurso de André Ventura já expressas pela "sociedade civil", por instituições e entidades, pelo poder político (partidos, ministros, ...).

Só que no caso dos partidos políticos há um outro lado da moeda (há quase sempre um "vice-versa").
Partido Socialista (Ana Catarina Mendes), Livre (apesar de continuar, em crescendo, toda a polémica que envolve a relação partido vs deputada), Bloco de Esquerda (Pedro Filipe Soares), Adolfo Mesquita Nunes, entre outros (como por exemplo a Ministra da Justiça).
A questão, principalmente no que toca aos partidos com assento parlamentar, é que todo este mediatismo tem duas vertentes que não podem ser escamoteadas. Uma que é inevitável e preferível, apesar de tudo, ao silêncio: a ampliação pública da afirmação de André Ventura que, incompreensivelmente, em pleno século XXI, ainda colhe adeptos.
A outra é a recolha de dividendos políticos, de ganho de popularidades partidárias, à custa das críticas (e, infelizmente, da própria visada/atacada Joacine). Como aliás refere o insuspeito bloquista José Manuel Pureza. As críticas dos mencionados Livre, do PS e do BE não passam de mensagens marcadamente políticas porque, infelizmente, não há qualquer consequência política ou condenatória para a execrável atitude do deputado e líder do Chega, André Ventura.
Verdadeiro impacto e desejadas consequências das críticas proclamadas de condenação das declarações xenófobas e racistas seria a Assembleia da República poder ir mais longe que um inconsequente "voto de repúdio". É apenas um "louro" político que, estupidamente, favorece também o populismo político-partidário e ideológico do Chega, dando-lhe eco e palco.

Curiosamente, ao contrário de tanta "falsidade", "cobardia", "vergonha", gritadas aos 4 ventos na última assembleia do Livre, a melhor resposta foi a da própria Joacine que se limitou, para já, ao silêncio.

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