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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Estar presente faz (sempre) toda a diferença

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Seja qual for a circunstância, a governação e a oposição, não alimento o fervor da confrontação política e partidária em plenas tragédias, independentemente das suas dimensões e tipologias.
As tragédias – humanas, sociais, ambientais, whatever, merecem, acima de tudo, que o foco se centre no seu combate e na sua solução, e não em contextos (por mais pertinentes que o sejam) que desviem o foco.

Os incêndios que lavram na Madeira há uma semana (tal como circunstâncias idênticas ou paralelas, como os de junho e outubro 2017, por exemplo) merecem a nossa preocupação, o respeito por quem os combate e por quem defende as populações (incluindo os autarcas das respetivas câmaras municipais e freguesias) e a solidariedade para com os madeirenses.

Haverá, seguramente, tempo e oportunidade, manifestamente mais clarividente e serena, para se apurarem responsabilidades, sejam elas criminais (confirmando-se negligência ou ação premeditada), sejam elas políticas ou técnicas.
Haverá, seguramente, tempo e oportunidade, manifestamente mais clarividente e serena, para se refletir, com a sociedade, com o universo académico e técnico, soluções estruturais para a prevenção, estratégias para o combate, definição de investimentos, recursos e meios, precauções ambientais, impactos económicos e turísticos.
Haverá seguramente, tempo e oportunidade, manifestamente mais clarividente e serena, para perceber (se é que há justificação aceitável) que quem tem responsabilidades máximas de gestão política e funcional, quem tem o dever e a missão superior de decidir e tomar as decisões urgentes e indispensáveis, quem tem as obrigações inerentes à função de gestão técnica, não tem o direito de se desobrigar e de se ausentar do terreno, de se afastar dos acontecimentos, para que a perceção da realidade, sem recados ou demasiado ruído de intermediação, determine respostas e decisões eficazes e eficientes. Para que não se caia no erro fácil, na narrativa desacertada, como por exemplo, ser-se desmentido, pelas corporações de bombeiros, quanto ao número de operacionais disponíveis na ilha da Madeira, pelos vistos, longe dos 750 bombeiros referidos.
Haverá seguramente, tempo e oportunidade, manifestamente mais clarividente e serena… não faz sentido o aproveitamento do contexto para palco político-partidário, quando a atenção deve estar focada no combate ao fogo, nas populações, nos bens, nos animais, na natureza. Serve para todas as “cores”…

Coisa diferente, bem diferente, é a irresponsabilidade política e a falta de solidariedade e humanismo, num momento de tragédia grave, demonstrada por quem tem a obrigação máxima, acima de qualquer outro cidadão ou entidade, de estar presente para gerir e decidir da forma mais competente e eficaz. Por quem tem responsabilidade política, pelo cargo e função que ocupa, por ter de cuidar dos cidadãos, do seu bem-estar, da sua segurança. Por que tem o compromisso de se solidarizar com as entidades, com as mulheres e os homens, com os pares políticos legitima e igualmente eleitos (autarcas) que empregam todas as suas forças e recursos no combate ao fogo (ao “lume”, como localmente é tão referenciado).

Não se exigia a Miguel Albuquerque que pegue numa mangueira e suba encosta para apagar o “lume”.
Exigia-se a Miguel Albuquerque que, na observação direta, no terreno, na confrontação in loco com a realidade, no olhar de cada rosto dos seus concidadãos, dos seus congéneres políticos e eleitos, na perceção do esforço de cada bombeira e bombeiro, de cada operacional, assuma as suas funções, o seu compromisso enquanto governante e responsável máximo, de forma mais clara, célere e consistente.

Isto bastaria e já seria muito, muito mesmo.
Com manifesto peso e relevância política acentuada, Alberto João Jardim (com tudo o que possamos discordar do cargo e da personalidade) teria tido, claramente, outra atitude e outra ação.