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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Estava a tentar evitar... mas lá tenho que colocar o cravo ao peito.

Vem isto a propósito das cerimónias que assinalam o 46.º aniversário do "25 de Abril"

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E diga-se de passagem... é a primeira vez que o faço (não sei se a última ou não, mas é a primeira). E diga-se ainda mais... principalmente para um fervoroso convicto do 25 de novembro (colocando-o no mesmo patamar que abril de 74, para que conste).

Vem isto a propósito de petições e contra-petições "pró e contra" as cerimónias previstas e anunciadas para a Assembleia da República (AR) e que assinalam o 46.º aniversário do "25 de Abril". E vem igualmente a propósito de toda a polémica que se gerou por causa de uma publicação que fiz no facebook (no seguimento deste post), embora relacionada com a recusa do líder do CDS em marcar presença nas cerimónias e não, propriamente, sobre a realiazação destas.

Importa pois esclarecer... Se o Presidente da Assembleia da República e os Partidos com assento parlamentar entenderem celebrar o 25 de Abril de outra forma não me cria qualquer tipo de constrangimento. Aliás, desde 1977 (altura da primeira cerimónia oficial na AR) que não houve cerimónias em 1983 e 1993 (por dissolução da AR - não estava, portanto, em funcionamento pleno e regular, entenda-se) e em 2011 quando as cerimónias foram transferidas para o Palácio de Belém.

Mas também não me incomoda rigorosamente nada, nem me choca, nem acho que isso seja motivo de qualquer tipo de desrespeito para com os cidadãos em isolamento (forçado ou por opção), pelos que trabalham na linha da frente ou na retaguarda no combate ao COVID-19 (muito menos pelos que, infelizmente, faleceram... antes pelo contrário), nem vista como falta de exemplo cívico.
Há, no calendário anual político (em cada legislatura) quatro pontos altos da democracia e liberdade: o 25 de abril (deveriam acrescentar o 25 de novembro), o 10 de junho, o 5 de outubro e o discurso de Ano Novo.

Regressando ao 25 de Abril (eu que até sou um fervoroso convicto da importância igual do 25 de novembro de 75... um deu-nos a liberdade o outro a democracia).
A AR não vai abrir portas para uma festa ou um arraial ou até mesmo uma manifestação de rua. A Assembleia vai, na continuidade das suas funções e competências, assinalar uma dos mais importantes marcos na história política e social portuguesa. E fá-lo porque sempre se manteve em funções, com um número reduzido de deputados e funcionário. Não fechou portas, não deixou de funcionar... como muitas empresas privadas, serviços públicos, governo, autarquias, take aways, ..., e não me quero referir aos serviços de saúde pelo enorme respeito que merecem.
Com a mesma importância e relevo dos que ficaram em casa (por opção ou imposição) em isolamento social, e bem.

Tal como não me incomodou nada, nem me causou qualquer constrangimento, que a Assembleia da República tivesse o cuidado de manter as suas funções e responsabilidades, nomeadamente nos plenários onde se decidiram as medidas e acções no combate ao surto pandémico. Porque é que as vozes críticas não se revoltaram? Porque é que determinados partidos marcaram presença e não se opuseram ao funcionamento, mais ou menos normal, da AR?

Porquê tanto alarido pelas cerimónias do 25 de abril, este ano, com 130 pessoas?

Excluindo da equação as críticas dos cidadãos, mais ou menos fundamentadas, por entenderem a situação injusta face à imposição do isolamento social (apesar de discordar), a resposta é bem mais preocupante?

E isso sim, é um condenável e deplorável aproveitamento, por parte de alguns partidos e de alguns políticos ou sectores da sociedade, da situação de crise que vivemos, um colossal desrespeito pelos portugueses e um inqualificável ataque à democracia e à liberdade. As mesmas que, hoje, ao celebrar-se o 25 de abril, nos permitem ser do contra, dar voz pública e mediática aos argumentos mais surreais e imbecis, ter opinião, ofender, pensar e expressarmo-nos.
A história já não é, infelizmente, nova... e tem na sua base o, condenável, fundamento ideológico de querer terminar com a celebração e a memória do 25 de abril.

(nota de rodapé: para que conste, para evitar comentários desnecessários ou argumentos de que até há socialistas contra as celebrações, sou social-democrata e, por isso mesmo, a favor dos dias 25: o de abril de 74 e o de novembro de 75... e SEMPRE).

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