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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Há mar e mar… demasiado mar.

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(imagem recolhida do Geoportal do Mar Português - DGRM)

Portugal é o 20.º país do mundo e o 5.º da Europa com a maior Zona Económica Exclusiva (plataforma continental e mar), área que se pode fixar perto dos 3,9 milhões de km2 (mais de 40 vezes o continente, sem contar com Olivença) se a pretensão apresentada, em 2009, às Nações Unidas, ultrapassado o conflito com Espanha em relação à zona das Ilhas Selvagens (Arquipélago da madeira), for positiva. Este marco fará com que Portugal suba ao 10.º lugar, na lista mundial, e à 4.ª posição entre os países europeus.

O que se afigura completamente incompreensível é que décadas após décadas, entre dois séculos decorridos, Portugal despreze 95% do seu território: o Mar.
Aquele que nos trouxe conhecimento e nos deu a conhecer ao mundo, aquele que foi um dos pilares da nossa identidade histórica, tem, hoje, por mais extenso que seja, um peso residual na economia e no desenvolvimento do país. Ao longo de décadas foi retórica política e demagogia eleitoralista. Na quinta-feira, foi foco discursivo na intervenção do Primeiro-ministro na Assembleia Geral da ONU.
A questão é: para quê e porquê? (mais uma vez).
Que proveito temos desta realidade? Que benefícios económicos e de desenvolvimento lucramos com esta riqueza invejável?

O Mar representa um enorme potencial económico que serviria para um inquestionável aumento da sustentabilidade e do desenvolvimento do país, com uma importância acrescida no âmbito da ciência e da investigação, da geopolítica e da geoestratégica militar, do turismo, da criação de emprego, da preservação da cultura, história e identidade lusa. Não deixando de referir a importância ambiental que o mesmo comporta. E o que o país fez e faz é menosprezar este valor indiscutível, é manter um “cofre cheio”, mas os bolsos vazios, perante uma realidade económica e produtiva demasiado frágil e diminuta.
Não se percebe, de facto, como é que um país empobrece com toda esta riqueza e com todo este recurso natural, não o consegue (ou sabe) explorar, não lhe retira o devido valor, sem consistentes e sólidas políticas públicas para o mar.
A frota pesqueira foi trocada, anos a fio, por promessas e subsídios destruturantes para o sector. A quota pesqueira foi sendo “engolida” por uma maior capacidade de pressão de países concorrentes no seio das instituições internacionais.
O turismo ligado ao mar (ao nível do investimento e das políticas governativas para o sector) confina-se, basicamente, ao Algarve, como se o mar apenas se destinasse ao mergulho após 2 horas a “torrar ao sol”, desvalorizando outro tipo de lazer que pode promover o turismo como os desportos náuticos, pesca desportiva, pesca submarina, atividades ambientais (como a zona da foz do Sado ou a biodiversidade dos Açores e Madeira).
O Mar traz novas realidades tecnológicas e científicas (oceanografia, biologia marinha, recursos naturais e energéticos, tecnologia e sistemas marítimos) novas oportunidades económicas (gestão das atividades marítimas e portuárias, arquitetura e engenharia naval, engenharia de equipamentos marítimos) e uma afirmação geopolítica, geoestratégica e de segurança com um peso internacional de excelência.

O Mar é o maior “trunfo” que temos para o nosso desenvolvimento económico, científico, tecnológico e social, potencializando o desenvolvimento nacional, se encarado e assumido como um valor de modernidade, uma oportunidade de futuro, um património único.

Para Portugal, o Mar não pode significar, tão somente, tradição, história e identidade passadas.
Continuamos a não saber e não querer olhar para esta oportunidade única de investigação/inovação e investimento/riqueza, para esta dimensão, não só na extensão, mas, também, na biodiversidade, nos recursos naturais (geológicos, minerais e energéticos), económicos e turísticos.
O Mar tem de ser encarado como futuro. Quem sabe… o único futuro de valor que nos resta.

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