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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Je Suis "Rossio"...

e politicamente (in)correcto.

Aveiro anda em "sobressalto", diga-se bastante agitada, por causa do Rossio (Aveiro).

A uma semana do tema ter "honras de Estado" na próxima sessão da Assembleia Municipal importa "concordar em discordar".

A passividade, a apatia, a falta de participação e intervenção cívicas, no dia-a-dia, nos "espaços públicos" ou nos momentos cruciais da vida comunitária e do país (seja no direito ao exercício do voto, seja nas simples sugestões ou contributos) da generalidade dos portugueses é igualmente proporcional à forma como manifestam indignação e descontentamento perante resultados (mais ou menos) finais. Daí a sabedoria popular raramente errar no espelhar das realidades: "casa roubada, trancas à porta" ou "lembrar Sta. Bárbara quando troveja", como exemplos. Imagine-se que até já há quem, agora, venha "desejar" a tão malfadada ponte sobre o canal, ligando o Rossio ao Alboi.

projeto rossio.jpg

Quando reparei, pela primeira vez, na imagem que retrata o projecto de requalificação do Rossio o impacto não foi, diga-se, positivo. Não pela proposta em si mas pelo que ela contrasta com as memórias vividas e "fotográficas". Joguei ali "à bola"... foi ali que andei na 'Roda Gigante' da Feira de Março, pela primeira vez. Entre outras (muitas) coisas.
Mas o mundo é feito de mudanças e são muitos os exemplos dos chamados novos tempos. Aveiro já assistiu a muitos, de forma mais ou menos pacífica: as Pontes (que passaram a uma 'ponte'), o nascimento do Bairro de Santiago, a urbanização da Forca, o 'fecho' da Rua Direita, a requalificação do Teatro Aveirense, a praça Marquês de Pombal, o novo Estádio Municipal, o túnel da Estação (tornando esta um elo de ligação e não de separação ou isolamento), a antiga Fábrica Jerónimo Pereira Campos, a nova Estação da CP, por exemplo (e para todos os 'gostos').

Nas muitas discussões que tenho assistido há uma pergunta que tem faltado, mais do que qualquer teoria a polemizar o eventual estacionamento subterrâneo: o que é, hoje, o Rossio? O que significa ele para a cidade de Aveiro?
Já foi palco de romarias e devoções. Já foi espaço de feiras e trocas comerciais. Já teve um bar sobre parte dos seus muros. Já foi... Porta de entrada na cidade e um dos cartões de visita, a verdade é que o Rossio já não dá, nem tem capacidade de, resposta para um conjunto de funções lúdicas, culturais e sociais às quais nos habituou durante várias décadas. Querer manter este espaço nobre e central da cidade como está é votá-lo à sua degradação e conceder-lhe uma lamentável agonia.

A atractividade turística é, hoje, muito elevada, seja pelo natural aumento do turismo em Portugal e na Região Centro, seja pela atractividade da Ria. E o Rossio tem que saber sobreviver e complementar esta realidade.

A proposta apresentada, à qual, garantidamente, a "habituação visual" e a convivência darão uma inquestionável resposta positiva, dá nova vida ao Rossio, requalificando-o e repensando a sua funcionalidade e potenciando a sua atractividade.
O novo desenho projecta uma praça rejuvenescida, aberta, ampla, com novos suportes, com elementos urbanísticos que defendem melhor o ambiente (a manutenção de espaços relvados tem custos e impactos ambientais que são, nos dias de hoje, insuportáveis... para além de uma total ausência de cultura e de civismo, por exemplo, com os dejectos animais em pleno espaço onde as crianças teriam direito a pular e brincar). E tem mais... tem, pela sua amplitude, a capacidade de acolher um considerável e multifacetado conjunto de respostas culturais e sociais que hoje estão totalmente abandonadas (eventos artísticos, feiras e exposições). E tem ainda mais... para aqueles que, e bem, preservam a identidade e as "estórias", tem um interessante destaque da história e cultura daquele espaço aveirense.

A proposta apresentada traduz a duplicidade actual do Rossio: espaço de recepção e de cartão de visita para os turistas e um espaço permanentemente disponível para os aveirenses. Haja vontade e empenho para tornar o Rossio um "enorme espaço público" com intensa actividade.

Este Rossio, de hoje, é que já não respira saúde, nem serve os aveirense, nem os muitos que acolhemos ao longo do ano.
Este Rossio precisa de nova vida.

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E importa lembrar: (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa)
ros·si·o (substantivo masculino)
1. Terreno largo, fruído em comum pelo povo.
2. Logradouro público. = BALDIO
3. Lugar espaçoso; praça larga. = TERREIRO