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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Macron, "carrasco" da democracia francesa

Se a atual conjuntura política francesa fosse a Marie Antoinette, Emmanuel Macron seria, claramente, o carrasco encarregado da sua execução (a 16 de outubro de 1793).

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Apesar da governação política francesa da era Macron, nomeadamente desde 2020, com Jean Castex, até setembro de 2024, com Gabriel Attal, passando por Elisabeth Borne, de maio de 2022 a janeiro de 2024, têm sido alvo das mais significativas e fraturantes insatisfações e instabilidade sociais, não era expectável que, mal foram conhecidos os resultados eleitorais das europeias de junho deste ano que o Presidente Francês tivesse tido a insensatez e o desvairamento político de dissolver a Assembleia Nacional e provocar e convocar eleições legislativas, numa manifesta veleidade política da interpretação dos resultados das referidas eleições e da desastrosa prestação do seu partido (perde 8 eurodeputados e tem uma queda superior a 10% nos votos expressos).

No seu discurso de 9 de junho, Macron justificou a dissolução da Assembleia e a convocação de eleições legislativas com a "inaceitável ascensão das forças da extrema-direita e nacionalistas que ameaçam da democracia em França e na Europa".
Perante o avanço do radicalismo e extremismo da direita, perante a manifesta vontade da Rassemblement National (RN) de Marie Le Pen abraçar o poder, numa das mais participadas eleições da história política francesa, os franceses foram bem claros quanto à manutenção dos valores democráticos republicanos da Liberdade, Igualdade e Fraternidade e à rejeição da extrema-direita, garantindo a vitória à Nouveau Front Populaire (NFP).

Pois ao fim de 2 meses de avanços, recuos, incertezas e episódios rocambolescos, Macron volta a agitar a política, a democracia e as "ruas" de França, com a nomeação de Michel Barnier, da direita republicana (quarta força política mais votada nas nas últimas legislativas), ignorando a vontade expressa dos eleitores franceses e não conseguindo criar condições, na Assembleia, para um entendimento, nomeadamente entre o seu partido (segundo mais votado) Ensemble Citoyens e a Nouveau Front Populaire (coligação vencedora das eleições).
Isto quando em 2022, sem maioria na Assembleia (250 deputados), Emmanuel Macron nomeava um primeiro-ministro, no caso uma Primeira-ministra, do seu governo de apoio. Agora, com a NFP a conquistar 182 lugares dos 577, a escolha do líder do governo francês recai sobre alguém do partido que perde 16 assentos na Assembleia Nacional, em relação a 2022 (obviamente, bem longe da queda de -82 deputados do 'Juntos'/Ensemble).

Consequência: contradiz todo o seu argumento que sustentou a sua opção de convocar eleições em junho, estendendo a mão à direita conservadora e à extrema-direita radical e nacionalista.
O povo (voltou a) saiu à rua... num dia assim.