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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

"Mais do que nunca, o DN" - José Júdice, ex-diretor do DN

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(capa do Diário de Notícias da edição de 20 de janeiro de 2024)

Amanhã é dia de Greve Geral no jornalismo. Não sei se será assim tão geral como deveria ser e como seria expectável que fosse. Seria, de facto, se a solidariedade no setor fosse uma realidade e não uma utopia.

Os jornalistas e a sociedade envolveram-se, e bem, na crise do JN, do Jogo e da TSF. Felizmente, ao que tudo indica, está encontrada a solução para uma fatia da Global Media.
Mesmo nesse contexto de crise do Grupo Global Media, mesmo com a situação de desespero que os profissionais do mais antigo órgão de comunicação social em circulação (160 anos) viviam e vivem, mesmo com o espectro do golpe num dos valores essenciais da democracia (a liberdade e a informação, a verdade e a transparência), com idas a audiências e comissões parlamentares, como manifestações públicas e de mensagens de figuras públicas em defesa do JN, o Diário de Notícias mantinha um brilho de esperança, uma réstia de luz no fundo do túnel e das trevas.

De repente… calaram-se as vozes e as manifestações públicas solidárias, os apoios aos apelos e aos ecos e invocações dos jornalistas do DN e do Património Nacional que representa. Tombaram os esforços e o empenho inexcedível dos profissionais do DN para o salvar, para o revitalizar, com novos projetos interessantes, como o dar espaço público aos imigrantes e ao seu enquadramento nas dinâmicas da sociedade portuguesa, sob a “pena”, por exemplo, da jornalista brasileira Amanda Lima.
De repente… coincidência ou não, o quadro político resultante das recentes eleições parece querer fazer abater sobre o jornalismo uma espécie de purga ideológica, condicionando a sua sustentabilidade e o investimento.De repente... surgem, de forma mais veemente, as ameaças, as ofensas, a pressão, os ataques à honra e ao bom nome, a muitos, demasiados (nem que fosse só a um), jornalistas só porque noticiam, questionam, contextualizam ou contradizem. No fundo, escrutinam com rigor, profissionalismo, deontologia e verdade (perante a passividade do Ministério Público, do Sindicato dos Jornalistas, das Instituições e da sociedade).
De repente… a greve geral de amanhã, volvidos 42 anos após a última convocação sindical, ganha uma nova dimensão e uma nova preocupante realidade: o despedimento coletivo no Diário de Notícias e Dinheiro Vivo (o que restou da Global Media), depois da demissão da direção do DN, como tão bem explica o agora demitido diretor José Júdice, neste assombroso texto: "Mais do que nunca, o DN".

Esperemos é que esta triste despedida da direção do DN não signifique, porque tudo é sombrio e nada claro e transparente, também a despedida do próprio Diário de Notícias.
Porque, para além do importante (o mais importante) impacto que terá nos seus profissionais (e nas suas famílias), será também uma despedida da democracia, da liberdade e da verdade, logo agora, num particular momento em que esses valores da democracia (jornalismo livre, ético e rigoroso; liberdade de informação e expressão; verdade; pluralismo; inclusão) são mais que urgentes e prementes.

Sem jornalistas não há verdade, factos, jornalismo… e sem jornalismo não haverá democracia.

Este grito, amanhã, devia ser tão, mas tão geral e de todos. Mesmo dos mais “instalados”. Porque 'um outro amanhã', também pode bater, com surpresa ou não, à porta de cada um.
Amanhã, 14 de março, ganha nova dimensão "Abril começa em março".