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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Mais uma vez, o jornalismo de cócaras

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Uma interessante (como sempre) publicação, hoje, de Luís Paixão Martins (uma das referências em comunicação política), na rede social “X”, sublinhava a fragilidade profissional com que os jornalistas encaram as intervenções do líder da extrema-direita portuguesa. Isto a propósito das declarações de André Ventura de repúdio pela escolha de António Costa para a presidência do Conselho Europeu.

A publicação de Luís Paixão Martins fez-me recuar até domingo e revisitar o texto “Na ética jornalística, "interesse público" não é igual a "interesse do público". Nem nunca deverá ser” porque, mais uma vez, Ventura acusa e critica, em pleno palco mediático promovido pela própria comunicação social, os jornalistas e o jornalismo, não só de perseguição ao partido, mas, também, de condicionamento da informação.

Faz todo o sentido, por isso, a posição do Sindicato dos Jornalistas (SJ) em denunciar e criticar as afirmações recentes de André Ventura que acusou os jornalistas de serem os verdadeiros “inimigos do povo”. Mas basta esse posicionamento do SJ na defesa dos jornalistas e do jornalismo? Ou melhor, não seria mais coerente que o Sindicato tivesse igual atenção para a forma subserviente como o jornalismo se dobra perante a extrema-direita?

É que mais uma vez o jornalista serviu, basicamente, (subscrevendo a reflexão de Luís Paixão Martins) de pé de microfone, perante a demagogia carregada de inverdades e incorreções, perante quem condiciona o trabalho e a função do jornalista, perante quem recusa, de forma enérgica, o contraditório. Mas ainda, perante critérios editoriais, manifestamente, discutíveis.

Ao caso, a posição de André Ventura sobre a futura presidência de António Costa no Conselho Europeu vale zero. Não é tido, nem achado e nem a questão passa, sequer, pelos dois eurodeputados da extrema-direita portuguesa eleitos para o Parlamento Europeu. Não tem relevância nenhuma. É apenas palco mediático, propaganda partidária e populista. É uma evidente “não noticia”, apenas tempo de antena vazio e oco.

E basta olhar para dados concretos do mês de maio, em plena campanha eleitoral para as europeias (fonte: mediamonitor). Duração, temporal, das notícias (só nas televisões) – top 10:

André Ventura (7:05’), Luís Montenegro (6:50’), Marcelo Rebelo de Sousa (5:32’), Marta Temido (5:21’), Sebastião Bugalho (5:06’), Pedro Nuno Santos (4:37’), Cotrim Figueiredo (3:54’), Catarina Martins (3:16’), Joana Mortágua (3:07’) e Inês Sousa Real (2:54’). Mas os “inimigos do povo” são os jornalistas.

Mais uma vez, o jornalismo pôs-se de cócaras e “abaixou-se” para mais uma machadada na profissão e nos profissionais (e “levam” todos, por tabela).