Make democracy and politics great again (*)
(*) Tornar a democracia e a política novamente grandes.
(créditos: Banksy Art Gallery)
Ao longo das 750 crónicas já publicadas, foram várias as reflexões sobre o valor da democracia e da política. Nos últimos tempos com maior apreensão, mas nunca, como agora, com a acrescida preocupação quanto ao presente e futuro da solidez e estabilidade da democracia.
1. Não bastava o mundo, essencialmente a partir de 2001, ter-se tornado, progressivamente, demasiado perigoso, agravado pelos atuais conflitos e contextos de guerra.
Os novos tempos, neste início do primeiro quarto do século XXI, afiguram-se demasiado perigosos e indesejáveis para a democracia e para a política.
A democracia sem a nobreza da política e da ética republicana torna-se frágil e tende deteriorar-se ou a extinguir-se. A mercantilização e o economicismo dos valores políticos facilmente transformam um sistema democrático numa condenável oligarquia.
O renascimento “luísiano” do Rei Sol nesta segunda era trumpista denota um temerário laivo absolutista do poder (o excessivo controlo dos poderes estatais norte-americanos - Administração, Senado, Câmara dos Representantes e a maioria do Supremo Tribunal - desvanece os tão desejados checks and balances) que ultrapassa as fronteiras americanas e afeta, diretamente, a estabilidade mundial. O total desprezo pelo Direito Internacional e pelas Instituições internacionais, o ilegítimo sentimento proprietário e controlador do mundo, da soberania dos Estados e da vida dos cidadãos é alarmante e assustador. E não é apenas (mesmo que fosse) pelos impactos económicos que provoca à escala global, tornando os frágeis e pobres ainda mais pobres, explorados e dependentes (sejam regiões, países ou pessoas). É o impacto que o desrespeito pela liberdade, pelos Direitos Humanos, pela dignidade humana representa para a democracia e os efeitos miméticos que provoca no quadro geopolítico, como ainda este fim de semana se observou em Espanha, num deplorável encontro que ameaça o projeto europeu e a Europa. Basta olharmos para a questão da migração, para os interesses económicos que se sobrepõem ao valor da vida humana (como na Ucrânia e em Gaza), para o “xadrez” internacional exclusivamente baseado no valor da troca e dos interesses económicos particulares ou a negação e reversão dos valores da democracia e da política. Sim… o mundo está marcadamente perigoso.
2. Mas não se pense que todo o mal que vem ao mundo para a democracia sopra do outro lado do Atlântico. Há, mesmo na mais ínfima escala local, sinais de fragilização da democracia e da política preocupantes.
Do ponto de vista de projeto autárquico e partidário, é pouco relevante os mais recentes acontecimentos internos no PSD de Aveiro com a decisão do órgão nacional do partido quanto à escolha do seu candidato. É algo que o PSD local, se quiser e souber, tem que lidar, já que, pelos vistos, o aparelho partidário não acreditou no valor do seu próprio legado autárquico. A verdade é que os aveirenses têm uma alternativa credível, experiente, com um futuro consistente para o Município, próxima das pessoas e agregadora das suas vontades e necessidades. Na hora da verdade, os aveirenses sabem responder. Nada de preocupante.
A questão é que os acontecimentos em si ultrapassam a realidade partidária e impactam, perigosamente, na democracia local. O desmoronar do baralho de cartas concelhio, a conflitualidade da relação política entre órgãos, a imagem espelhada publicamente do menosprezo democrático pelo que era (e diga-se, legitimamente) a vontade da estrutura local do PSD, os egocentrismos colados à ânsia do poder, resultam no descrédito da política e do papel dos políticos, das instituições partidárias e abalam os pilares da democracia. Daqui até aos extremismos, populismos e radicalismos, até à proliferação de movimentos que renegam o papel dos partidos nas dinâmicas democráticas, até à indiferença dos portugueses em relação à política, passando pela indesejada taxa abstencionista em cada processo eleitoral, é um caminho muito curto e uma ténue linha facilmente ultrapassável.
E importa referir que a realidade recentemente vivida no PSD Aveiro nada tem de inédito ou exclusivo. Ela é transversal, sujeita a ser vivida pelas mais diversas forças partidárias. Foi tantas vezes assim no passado e, infelizmente, tende, teimosamente, a continuar a ser.
Por isto, e por tantos casos que a política vai vivenciando, é que se torna tão premente tornar os valores da democracia grandes novamente.