Mas qual é a pressa?
A expressão ficou marcada na gíria política depois de “patenteada”, em 2013, por António José Segura, à data líder do PS, quando surgiram críticas internas e a pressão para a realização de um congresso, contexto que, mais tarde, culminaria com a chegada de António Costa à liderança socialista.
Desde então, não raramente, surge o recurso à expressão “qual é a pressa?” para questionar o surgimento de contextos a destempo e inoportunos, de spinning que desvia o foco da realidade e da agenda, que antecipa o calendário político-partidário.
Com tanto assunto para discutir neste arranque de mais uma legislatura, neste mandato que se mantém incerto quanto ao seu ciclo (por força da incerteza de um eventual chumbo do Orçamento para 2025), com tanto assunto no universo político atual (saúde, o aproximar de mais um ano letivo (ensino superior e básico e secundário), as alterações fiscais, a habitação, etc., etc.) surge o agendamento público, questionável e totalmente desapropriado, do tema das eleições presidenciais e dos putativos a putativos candidatos e candidatas.
E, de facto, não se percebe, mesmo do ponto de vista partidário e de contexto (benefício) político, qual é a pressa para uma realidade que apenas acontecerá no início de 2026? Não só porque estamos ainda bem longe desse processo, muito ainda haverá por confrontar com a questão do OE 2025, para além de que em 2025 haverá um ato eleitoral de enorme importância (quase que me atrevia a dizer ‘mais importante que as presidenciais’, apesar da sociedade tender, gradualmente, a desvalorizar e menorizar o seu papel) para o país, para os portugueses e para as comunidades que são as eleições autárquicas de setembro/outubro de 2025.
Vir para o espaço público tecer considerações sobre projetos presidenciais ou sobre “passadeiras” e desfiles de figuras presidenciáveis, neste momento, a esta distância e sabendo-se da vulnerabilidade das “certezas políticas”, não produz qualquer resultado pragmático, não traz qualquer contributo para a agenda atual e, nalgumas circunstâncias, poderá, até, produzir efeito contrário ao que, eventualmente, alguns perspetivariam. E muito menos afastam, condicionam ou definem potenciais (ou efetivas) candidaturas ou posicionamentos partidários.
Tudo terá o seu tempo… qual é, de facto, a pressa?