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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Merci, França

Bandeira Francesa com slogan republica.jpg

Depois do “amargo de boca” de sexta-feira passada (sim, no futebol), eis que a França nos dá, hoje, uma excelente notícia, uma enorme lufada de esperança e alegria.

Os franceses perceberam o que se jogava neste domingo e foram votar maciçamente na defesa da Democracia, dos valores republicanos da Liberdade, Igualdade e Fraternidade e, principalmente, derrotaram a extrema-direita, o nacionalismo ideológico, o ataque à democracia e aos mais elementares direitos, liberdades e garantias, e fizeram, ainda, renascer a direita democrática, o Partido Socialista Francês e o papel político da esquerda na sociedade francesa.
E, neste sentido, esta vitória surpreendente da democracia e da vontade dos franceses de garantir que não houvesse um ganho do retrocesso civilizacional, social e político, não foi apenas da França. Foi, pelo menos, uma enorme vitória para a Europa, depois do susto e percalço nas últimas eleições europeias.

É inquestionável o papel político que a França detém na geopolítica europeia e internacional, quer para a coesão europeia, quer perante os desafios que o alargamento da União Europeia acarreta, quer perante o conflito da guerra na Ucrânia com a invasão russa, quer na instabilidade no Médio Oriente.
Esta vitória da Nova Frente Nacional e a clara derrota da extrema-direita da União Nacional é, por isso, também uma vitória para todos nós democratas, republicanos e defensores da liberdade e dos direitos fundamentais.

No caso de Portugal, os franceses deram-nos uma colossal lição de democracia e de liberdade. Mesmo que de forma não intencional, nem consciente, a verdade é que projetaram nestas eleições as palavras recentes do Papa Francisco que, ainda hoje, se mostrava preocupado com as “tentações populistas” e com a consequente “crise da democracia”. Do Vaticano veio o alerta para as "tentações ideológicas e populistas" da extrema-direita e os seus impactos na democracia.
Estes resultados em França, com a derrota evidente do partido de Marine Le Pen, que numa semana, perto de uma projetada maioria, passou de primeira força mais votada para o terceiro lugar, e estas palavras do papa Francisco, para aqueles que, em Portugal, tanto gostam de se fotografar ajoelhados junto a túmulos ou em poses beatas em igrejas, são uma evidente demonstração de fortalecimento da democracia, da liberdade e da vontade popular, daqueles para quem o presente e o futuro da sociedade e da humanidade assenta na Democracia, no Estado de Direito, na inclusão, no respeito pelo outro, pelo pluralismo.

Foi, por isso, importante que os franceses (tal como os britânicos, na quinta-feira) tenham, hoje, defendido a democracia e derrotado a extrema-direita. Mas é ainda mais importante que, amanhã, se mantenha a esperança de podermos continuar esse percurso e a derrotá-la no futuro.

Mas não se afiguram, do ponto de vista da estabilidade política e da governabilidade em França, tempos pacíficos e fáceis para Macron que é um dos outros derrotados neste processo, muito por culpa própria, não só pelos últimos anos do seu percurso político e da sua gestão dos destinos franceses, mas pela pouco, ou quase nada, compreensível opção estratégica de convocação de eleições antecipadas. Mas isso, serão as dinâmicas naturais da democracia, do seu funcionamento e do diálogo político que se exige no respeito pela vontade expressa nas urnas dos eleitores franceses.

Laissez faire, laissez passer.