Mr. President Donald Trump... as palavras contam (e muito...)
Os factos... Numa semana os Estados Unidos assistiram a três massacres, dois dos quais no último fim de semana (sábado e domingo) em apenas pouco mais de 12 horas:
- 29 de julho | Festival de gastronomia de Gilroy na Califórnia, a sul de San Francisco.
4 pessoas, incluindo um rapaz de 6 anos, foram mortas por um atirador de 19 anos. - 2 de agosto | Supermercado Walmart, em El Paso (Texas).
22 mortos e 26 feridos provocados por um jovem atirador de 21 anos, residente em Allen, perto de Dallas. - 3 de agosto | Passeio/Entrada do bar Ned Peppers, em Dayton (Ohio).
10 mortos (entre os quais a irmã do atirador) e 27 feridos... Connor Betts, de 24 anos, de Bellbrook (a 26 kms do local).
A demagogia, a manipulação e a hipocrisia políticas marcaram o discurso crítico de Donald Trump em relação aso acontecimento de El Paso e Dayton, mas que não convence ninguém (nem mesmo no seio dos Republicanos) porque sabe a um completo vazio e está completamente distanciado da retórica bem recente do que foi a campanha e o suporte eleitoral de 2017 e a actual campanha, em curso, tendo em vista uma eventual reeleição.
Não é preciso fazer-se um exercício muito apurado de memória para recordar...
- os apoios da extrema-direita e da "supremacia branca", do poderoso lóbi da National Rifle Association (NRA), que sustentaram a eleição de Donald Trump (e as consequentes "vénias institucionais") em 8 de novembro de 2016 (tomada de posse a 20 de janeiro de 2017);
- as declarações públicas e "oficiais", em plenos comícios de campanha eleitoral, racistas e xenófobas, como, por exemplo, contra as quatro congressistas Democratas: Alexandria Ocasio-Cortez, Rashida Tlaib, Ayanna Pressley e Ilhan Omar; afirmações, essas, criticadas e condenadas pelo Congresso (de forma inédita), pelo partido Democrata e por parte de alguns Republicanos;
- toda a polémica com os refugiados e migrantes sul-americanos, a construção do "Muro" na fronteira com o México, onde 900 crianças continuam separadas das famílias numa política de completo ataque aos mais elementares direitos humanos;
- as afirmações, verbais e escritas, do Presidente dos Estados Unidos que classificaram/adjectivaram os mexicanos (e, consequentemente, os hispânicos) de "violadores" e "criminosos", numa clara campanha de ódio e racismo.
É a própria realidade interna, para além do bom senso comum e de qualquer sentido humanista, que desmentem as "lágrimas de crocodilo" de Trump, porque as palavras não correspondem às suas convicções, opções políticas e visão da sociedade. E tem reflexos muito concretos e práticos (para além dos fundamentos dos manifestos que levaram aos bárbaros actos recentemente praticados):
- Candice Keller, congressista na Câmara dos Representantes do Estado do Ohio (onde se localiza Dayton), afirmou, numa publicação na sua página do facebook, que a culpa dos tiroteios é dos transgéneros e homossexuais, de quem fuma marijuana e até de Obama e dos atletas profissionais;
- Apesar do El Paso ser considerado o pior massacre nos Estados Unidos desde Novembro de 2017, o Texas (Estado onde se situa El Paso) aprovou uma lei (a entrar em vigor já em setembro) que permite armas nas igrejas e nos estabelecimentos/recintos escolares;
- A estrutura de suporte à reeleição de Donald Trump publicou, desde janeiro deste ano, dois mil anúncios nas redes sociais com mensagens como: "Temos uma INVASÃO! Por isso estamos a CONSTRUIR O MURO PARA A PARAR! Os democratas vão-nos processar. Mas queremos um PAÍS SEGURO! É CRÍTICO que PAREMOS A INVASÃO!".
A mistura explosiva, ódio/racismo e lei de acesso e posse de armas, que alimenta parte da política da Administração Trump está demasiado presente no dia a dia da actual governação americana que por si só é suficiente para descredibilizar todo o discurso recente do Presidente Donald Trump, claramente motivado pela conjuntura eleitoralista.
Importa terminar, tal como iniciado, com factos (duas notas):
1. Um artigo recente da agência Deutsche Welle indica que estão registadas 50 mil lojas de armas... mais do que as famosas lojas tipicamente americanas como a McDonald's, que são cerca de 14 mil. Por exemplo, segundo a Deutsche Welle, nalgumas lojas do grupo Walmart é possível comprar armas de forma muito simples.
2. Segundo a investigação do projecto Small Arms Survey, existem pelo menos 390 milhões de armas de fogo nas mãos de cidadãos americanos, o que dá mais do que uma por habitante (327,2 milhões).
(créditos da foto: agência REUTERS)