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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

"Não foi por falta de aviso #2... duas coincidências (ou não) sobre a tomada de posse do Governo AD

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Deixemos a primeira prioridade governativa para uma análise seguinte e o discurso demagogicamente minimalista da Tomada de Posse para a crónica semanal, segunda-feira, no Diário de Aveiro.
Centremo-nos, apesar dos considerandos, precisamente no dia da Tomada de Posse do XXIV Governo Constitucional. Há dois acontecimentos que marcam a agenda e que não são mera coincidência. Antes pelo contrário… são de uma simultaneidade significativa.


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1. Precisamente na véspera da tomada de posse, há dois dias, na segunda-feira, a comunicação social serviu, mais uma vez, de palco mediático ao líder do Chega. André Ventura aproveitou uma alegada visita política a um mercado para aproveitar os microfones e as câmaras para pressionar Luís Montenegro a repensar a nomeação de Margarida Blasco para Ministra da Administração Interna. Segundo Ventura, em causa está, pasme-se, a experiência e o currículo profissional, nomeadamente a sua passagem pela Inspeção-geral da Administração Interna. Como argumentos, a ex juíza conselheira do Supremo Tribunal de Justiça e ex diretora-geral do Serviço de Informações de Segurança é acusada de “provocar mal-estar entre os policias, com acusações de racismo" e gerar "um certo descontentamento das forças policiais com esta nomeação”.
Ora, ainda bem que assim é. Considerando a reação e as críticas proferidas por André Ventura podemos afirmar que a escolha (falta avaliar, agora, o que será o seu desempenho político e governativo) foi a mais acertada. Talvez, até, das mais acertadas do elenco governativo.
E sobre isto importa recordar o que foi referido há uns meses, a propósito das manifestações das forças de segurança (“Às armas! Às armas!... "Secos e Molhados", versão 2.0”): a instrumentalização partidária e política de movimentos inorgânicos que teimam em assumir extremismos e radicalismos. É por demais evidente e conhecida a manipulação de setores da PSP e da GNR por parte da extrema-direita. E porquê e para quê? Porque as forças de segurança são parte importante nos objetivos ideológicos e partidários da extrema-direita. A nossa história política recente e a do mundo demonstra que os regimes fascistas, totalitários, antidemocráticos, limitadores das liberdades e dos direitos têm na opressão, no uso da força, da violência e da repressão uma das suas armas. O objetivo final do Chega não é o legítimo e compreensível bem-estar dos profissionais da PSP e da GNR. O objetivo é, através do populismo e da pseudo-solidariedade, assegurar a fidelidade das forças de segurança à(s) causa(s) ideológica(s) da extrema-direita.

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2. A segunda referência vai para o, agora, indigitado vice-presidente da bancada parlamentar (2 deputados) do CDS, Paulo Núncio, neste emotivo e emocionado regresso do partido à Assembleia da República.
Por coerência, diga-se, é um facto que pelo o que o CDS representou nos primeiros anos e na história da nossa democracia não deveria ter perdido o seu lugar no Parlamento, em 2022. Tal como não se espera que aconteça o mesmo com o PCP. É uma questão de história e memória democráticas e políticas. Mas daí até ao “folclore partidário” montado no primeiro dia de trabalhos da Assembleia da República deste mandato legislativo, com “mestre de obras”, “bricolage” e “pieguices emotivas”, vai alguma diferença. Foram foguetes lançados por muito pouca coisa e substância. É que importa lembrar que o CDS regressa à Assembleia da República não por mérito próprio, mas à boleia (mais uma vez) de uma coligação eleitoral, a qual nem se quer permite o apuramento real do valor eleitoral, do número de votos expressos, do verdadeiro sentido da escolha dos eleitores. É um mero resultado de posicionamento elegível, ao arbítrio da sorte dos resultados.
À parte os considerandos, regressemos a Paulo Núncio, mas com o foco, precisamente, no Parlamento. Depois da polémica com as afirmações, públicas, políticas e partidárias, sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez, precisamente quando um dos pressupostos do discurso de Luís Montenegro se centrava na questão do diálogo entre as bancadas, Paulo Núncio vem recordar, publicamente, com pompa e circunstância, para além da contradição e do paradoxo total, que no dia 2/4/1976, precisamente na mesma data em o Governo da AD (no qual o CDS se integra) tomou posse, “os deputados do CDS foram os únicos com coragem de votar contra uma Constituição de cariz socialista”.
Podia, já agora, também ter-se lembrado que a 28 de junho de 1979 o CDS votou, juntamente com o PSD, contra o projeto-lei que criava o SNS. Era o pleno no que respeita à valorização da democracia, da liberdade e do pluralismo.

Isto não se inventa e não foi por falta de avisos.