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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Não há almoços grátis

O risco de vender a alma ao diabo.

À comunicação social exige-se (e auto exige-se) rigor, transparência e independência para que a sua particular e principal função/missão possa ser cumprida: retratar a verdade dos factos. E, desta forma, contribuir para o fortalecimento da democracia e do "espaço público".
Nestes princípios, cabe à comunicação social o papel escrutinador dos poderes públicos, nomeadamente os políticos, como forma de garantir o legítimo funcionamento de um Estado de Direito Democrático.
Tudo isto, apenas se consegue com o empenho inquestionável dos seus profissionais, no restrito cumprimento dos princípios fundamentais da ética e da deontologia do jornalismo. A começar pela independência e pelo rigor.

Também é verdade, com reconhecimento geral, que o jornalismo atravessa momentos de forte instabilidade, de desafios complexos e de incapacidade em garantir a sua sustentabilidade. Os contextos são diferenciados e múltiplos. Já o resultado é de uma forte vulnerabilidade e fragilidade.

O Governo dos Açores ao anunciar, há cerca de 4 ou 5 dias (e o timing também não é ingénuo: a proximidade da discussão do orçamento do arquipélago e a recente polémica em torno do nebuloso acordo com entre o Governo dos Açores e a Ryanair), a inclusão do Programa Media Mais no Orçamento Açoriano para 2024 - programa de Apoio aos Media dos Açores, que contempla o pagamento salarial (cerca de 40%) de profissionais da comunicação social que aufiram vencimentos até 1.500 euros - apenas tem como objetivo final o aproveitamento político da reconhecida fragilidade do setor.

No contexto político de forte instabilidade na governação (com a saída de um deputado do Chega e a indefinição do Iniciativa Liberal) e com o aproximar das eleições legislativas regionais (outubro de 2024), o Presidente do Governo Regional dos Açores (PSD), José Manuel Bolieiro, pretende oferecer um "presente envenenado", numa pretensa tentativa de condicionar a liberdade de imprensa, de criar constrangimentos no trabalho que se espera independente dos profissionais da comunicação social açoriana.

Por mais que José Manuel Bolieiro venha afirmar que «não há, nem haverá, pelo XIII Governo Regional dos Açores, qualquer interferência na liberdade editorial dos referidos órgãos de comunicação social», esta proposta é um atentado à dignidade profissional (e pessoal) e à integridade dos jornalistas. Por mais profissional  independente que venha a ser o trabalho dos jornalistas, ficará sempre manchado pela legítima dúvida da opinião pública sobre a isenção e a credibilidade da informação noticiada.

Nestes contextos, ganha manifesta dimensão a tão badalada expressão: à mulher de César não basta ser...

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