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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Não há Festa como esta... nem como outra qualquer.

duas ou três coisas sobre embirrações comunistas...

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Podem juntar o Pontal e a Universidade de Verão do PSD, os "comícios nacionais" do PS ou do CDS e os acampamentos, mais ou menos anárquicos ou mais ou menos psicadélico do BE que a realidade é só uma: Não há Festa como esta (Avante).
Só quem nunca quis ou nunca teve essa oportunidade de marcar presença, pelo menos uma vez, é que não consegue visualizar e compreender a dimensão da Festa do Avante.
Se do ponto de vista político-partidário ela não difere muito dos outros exemplos de reentrés partidárias, já do ponto de vista ideológico e, nomeadamente, na vertente cultural e na dimensão da participação (que ultrapassa qualquer fronteira partidária), a realidade é inquestionável... não há mesmo festa como aquela.
Por si só, esta realidade seria mais que justificável para toda e qualquer "inveja partidária". E sempre a houve, diga-se de passagem.
Mas nem neste contexto se percebe e compreende a embirração generalizada com a Festa do Avante deste ano: desde parte da sociedade, a partidos políticos (como o PSD), passando pelo Presidente da República e pelo próprio Governo (quer o Executivo, quer o partido que o sustenta, o PS).

Parte da sociedade reclama porque é inconcebível a realização do evento em plena pandemia, com o número de casos a aumentar. Esquecendo, essa mesma "parte da sociedade" (não sei se a maioria ou não), que entretanto se realizou a peregrinação de estrangeiros e emigrantes em Fátima; são frequentes aglomerados significativos, sem qualquer tipo de controlo, às portas de zonas comerciais (como, por exemplo, há 4 dias no Outlet de Vila do Conde), as festas populares nalgumas regiões do Minho (como Arcos de Valdevez) ou as Feiras Tradicionais em tantas localidades do país.

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(crédito da foto 3: Paulo Cunha/EPA)

No caso do PSD, é difícil de compreender a posição de Rui Rio, quase que obsediante, em relação à festa comunista. Nem do ponto de vista político, nem do ponto de vista mediático ou de agenda, existe qualquer vantagem política. Custa ainda mais a perceber vindo de Rui Rio, sempre tão preocupado (e ainda bem) com o que verdadeiramente interessa para o país, para o combate político e para a ética política. É que esta é uma preocupação política perfeitamente naif: já houve um 1.º de Maio, manifestações partidárias ou de defesa de causas e direitos fundamentais (como as manifestações contra o racismo... que existe, de facto, em Portugal) ou a enchente "surpresa" de turistas, sem a resposta adequada por parte do Governo, no Aeroporto de Faro (por exemplo).
Há, infelizmente, matéria política mais grave e relevante, suficiente para ocupar a agenda partidária de Rui Rio. Tomara ver a mesma "obsessão" pela forma como o Governo tem gerido a pandemia desde o confinamento, a dualidade de comportamentos e discursos de António Costa, ora à frente, ora na sombra das câmaras e dos microfones, ou, principalmente, a situação económica e social do país quando atingimos a histórica queda superior a 16% do PIB, neste segundo trimestre do ano.

E importa ainda referir quer a postura de Marcelo Rebelo de Sousa, quer do próprio António Costa em relação ao tema.
Sabe a demagogia presidencial esta repentina preocupação balofa do Presidente da República com a realização da Festa do Avante.
O mesmo que serviu de bandeira na abertura da Feira do Livro de Lisboa ou do Porto e apelava à presença de milhares de portugueses nos dois eventos. O mesmo que, tal como o Governo, durante várias semanas, teve como preocupação a falta dos milhares e milhares de ingleses nas praias algarvias. O mesmo que, tal como o Governo, achou que a realização da final (esquisita e sem sabor nenhum) da Liga dos Campeões traria projecção a Portugal (a tal que, sem ingleses, espanhóis ou italianos, passou ao lado de tanta gente e já ninguém se lembra). O mesmo que, tal como o Governo, quiseram desviar as responsabilidades e sacudir a água do capote com o parecer escondido da DGS. Como a disparidade e as injustiças criadas com as incoerências das decisões políticas e governativas nas várias fases do desconfinamento, nomeadamente, para o caso, no que diz respeito aos eventos de massas e culturais, foram demasiadas e tão criticadas, a DGS acabou por servir de "bode expiatório" para toda esta controvérsia oca em relação à reentré comunista.
Mas até aqui os erros estratégicos foram evidentes. Como bem referiu a Directora-Geral da Saúde, Graça Freitas, a DGS não tinha que revelar coisa nenhuma do parecer que emitiu em relação à Festa do Avante. A DGS é uma entidade, substancialmente, técnica... emite normas, orientações, pareceres. Quem a tutela, quem tem a responsabilidade política e de gestão pública é o Ministério da Saúde e o Governo. Estes é que têm a responsabilidade política perante o país e os portugueses de tornar públicas as suas opções de governação e de gestão. Tudo o resto sabe ao tão tradicional "assobiar para o ar".

É por demais evidente que a Festa do Avante sempre se realizaria (a menos que a realidade do país se tivesse agravado substancialmente), tal como se realizou o 1.º de Maio e o Comício do PCP no Parque Eduardo VII, em junho passado. Nunca António Costa e o Governo abririam uma guerra sobre liberdades políticas com um parceiro de coligação e apoio parlamentar. Haveria mil e uma formas de criar condições para um parecer favorável, mesmo que criterioso, em relação ao evento do PCP.
O que está em causa não deve ser a Festa do Avante... mas sim a forma como o Governo e o Ministério da Saúde não encontraram, durante todo o desconfinamento, uma estratégia coerente, justa e (o mais possível) equatitativa para realidades e contextos semelhantes, no âmbito do que são os riscos para a saúde pública nesta realidade COVID-19.
Isso é que deveria estar, de facto, em causa.