Não há liberdade... sem respeito pela memória/história
Já lá vão 46 anos desde a madrugada de 25 de abril de 1974... aproximamo-nos da meia década, o que, socialmente, leva a que a memória colectiva vá perdendo a sua referência histórica e social.
Soube, pela história familiar, as marcas que a guerra colonial deixou.
Soube, por vivência, que naquela quinta-feira do dia 25 de abril de 1974 não iria sair de casa para ir às aulas (até porque lá em casa já se sabia que "algo" iria acontecer entre 24 e 25 de abril).
Sei, por muito que o queiram esconder e menorizar, a essência e o que estruturou a revolução de abril (a situação militar na Guerra Colonial), com um enorme sentimento de gratidão aos Militares (todos). A história e os factos confirmam-nos a forma como, depois, o Povo soube abraçar uma oportunidade única que o Movimento das Forças Armadas ofereceu, com bravura e coragem dos "Capitães de Abril" em tempos muito particulares (dos quais não tenho, nem nunca tive, a mínima saudade ou saudosismo).
Soube, por vivência familiar, o que foram os tempos do PREC (sem juízos de valor).
Soube, pela experiência e pelas relações familiares, o que foram os tempos complexos (a melhor adjectivação que encontro) do Verão Quente seguinte.
Por convicção política e ideológica (sempre assumidas há décadas) sei reconhecer o 25 de novembro de 75 como um marco único na formação da nossa democracia, tal como o 25 de abril de 74 para a liberdade.
Sei, pelos laços familiares e pelo ENORME respeito, afectividade e consideração que me merece um dos Capitães de Abril que fizeram a Revolução e a fizeram, igualmente, crescer, a importância do Conselho de Revolução durante todo o processo político de transição.
Sei quem foram Otelo Saraiva de Carvalho, Melo Antunes, Vasco Gonçalves, Garcia dos Santos, Vítor Crespo, Sanches Osório, Nuno Fisher Lopes Pires ou Hugo dos Santos. Ou os capitães que tomaram de "assalto" o Rádio Clube Português (RCP), a RTP e o comando militar do Porto: Santos Coelho (RCP), Teófilo Bento (RTP) e Carlos Azeredo (Porto). Entre os cerca de 5.000 militares, anónimos, que saíram à rua nessa quinta-feira.
Sei quem foi António Spínola, Adelino de Palma Carlos e Costa Gomes.
Sei (ainda bem melhor) quem foram Melo Antunes, Vasco Lourenço, Pedro de Pezarat Correia, Manuel Franco Charais, Canto e Castro, Costa Neves, Sousa e Castro, Vítor Alves, Vitor Crespo. Bem como Ramalho Eanes.
Sei, entre outros processos, da importância d' Os Congressos da Oposição Democrática (nomeadamente o 3.º Congresso, realizado em Aveiro no início de abril de 1973).
Sei, pela história, pelos factos, pelas vivências... Mas também sei que a história, e as suas as mutações, e os marcos políticos têm sempre um rosto, têm a sua principal referência (que tantas vezes se quer "esconder").
A verdade é que a Liberdade de Abril tem uma memória e o seu verdadeiro herói: Salgueiro Maia.
Mesmo que o próprio nunca o tenha querido, merece muito mais que um mera lembrança da história. Merece o respeito, a consideração nacional e o reconhecimento colectivo (todo o reconhecimento) pelo papel ÚNICO que desempenhou no "25 de abril de 74".