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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Não se trata apenas de Migrantes ou Refugiados. São pessoas... seres humanos.

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(créditos da foto: Christopher Reardon / ACNUR-ONU)

A ONU declarou instituiu, desde 2000, o dia 20 de junho como o "Dia Mundial dos Refugiados". Hoje, 29 de setembro, a Igreja Católica celebra o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado.
Podendo parecer uma duplicação de datas, independentemente de crenças e credos, a verdade é que todas as datas, todos os momentos são importantes para lembrar e alertar para o maior flagelo da humanidade, nos dias de hoje. Por mais movimentações, greves, manifestações, intervenções que, legitimamente e com toda propriedade, nos avisem para a vertente ambientalista. Nada vale mais que a dignidade e vida humana.

Importa, por isso, lembrar. A ACNUR (Agência de Refugiados das Nações Unidas) estima (em 2018) que mais de 70 milhões de pessoas, em todo o mundo, fujam da guerra, de perseguições e conflitos políticos, étnicos e religiosos, e da ausência de condições de sobrevivência (muito por culpa das alterações climáticas que alguns teimam em negar). Sendo que este número representa um aumento de mais de 50% do número de refugiados na última década.
Das 70,8 milhões de pessoas... 25,9 milhões (50% são crianças, sendo que milhares estão sozinhas) foram forçadas a sair dos seus países por causa da guerra, conflitos e perseguições ou pela sobrevivência "natural"; 3,5 milhões de solicitaram refúgio (nomeadamente por razões políticas, sociais e humanitárias); e 41,3 milhões de pessoas são considerados "deslocados internos" (foram obrigadas a abandonar as suas casas mas permanecem no país). Os principais países de origem são a Síria, Palestina, Iémen, Sudão do Sul, Afeganistão, Ucrânia, Mianmar/Bangladesh, Somália, Burundi, Ucrânia, África Subsaariana (República Centro-Africana, Senegal, Mali, Costa do Marfim, Nigéria, Gâmbia, República Democrática do Congo, Uganda), Venezuela e El Salvador, Nicarágua e Guatemala (que atravessam o México para chegar aos Estados Unidos).
Retomando o número apurado de refugiados (25,9 milhões fora dos seus países de origem) e contrariando o estigma instalado em muito do discurso comum (quer na Europa, quer nos Estados Unidos), 80% destas pessoas vive nos países vizinhos aos de origem (mesmo que em campos de refugiados). Aliás, os três países que mais refugiados acolhe são a Turquia, o Uganda e o Paquistão (6,3 milhões de pessoas).

Interessante é a abordagem do Vaticano à problemática e a forma como a questão dos Migrantes e dos Refugiados foi apresentada, neste dia.
NÃO SE TRATA APENAS DE MIGRANTES... Trata-se também dos nossos medos.
Ou se preferirmos... a desconstrução desses medos. Da multiculturalidade, da diferença, da "invasão".
NÃO SE TRATA APENAS DE MIGRANTES... Trata-se também da nossa humanidade.
Da responsabilidade que os chamados países desenvolvidos, as potências, os países dominantes, tiveram e têm nas regiões empobrecidas, escravizadas, exploradas, desfeitas pelos conflitos e guerras (alimentados, interessadamente, à distância).
NÃO SE TRATA APENAS DE MIGRANTES... Trata-se de não excluir ninguém.
Porque todo o ser humano tem direito à vida e vida com dignidade. Porque ninguém é refugiado porque quer, por opção, mas sim por imposição, por uma questão de sobrevivência.
NÃO SE TRATA APENAS DE MIGRANTES... Trata se de colocar os últimos em primeiro lugar.
Porque a todos devem ser garantidas as mesmas oportunidades. Porque todos devem ter direito a um lugar para viver. Porque para com os mais frágeis, os mais desprotegidos, há o dever colectivo de proteger e ajudar.
NÃO SE TRATA APENAS DE MIGRANTES... Trata se da pessoa toda e de todas as pessoas.
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. (artigo 1.º da declaração Universal dos Direitos Humanos).

Enquanto que no primeiro semestre de 2019, 34.226 migrantes e refugiados chegaram à Europa através do Mediterrâneo e, no mesmo período, 683 não chegaram a sentir o sabor (mesmo que condicionado) da liberdade e de uma nova vida. Fugiram da morte para encontrar a morte.
Enquanto que, naquele que é uma dos maiores ataques à dignidade, direitos universais e ao respeito pelo outro, na fronteira dos Estados Unidos com o México, mais de 911 crianças (20% das quais são bebés ou com idade inferior a 5 anos) foram retiradas à sua mãe, ao seu pai, às suas famílias. Para além das condições desumanas com que o Centro de Detenção em Homestead, na Florida, acolhe mais de 2.000 crianças e jovens (dos 13 aos 17 anos).

E porque a história nunca deve ser travada... vem à memória as imagens de Alan Kurdi (numa praia da Turquia) e do pai a abraçar a sua filha bebé, ambos mortos, no Rio Grande, na fronteira México-Estados Unidos - Óscar Ramírez e Valeria.

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