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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

O "avô" camarada...

independentemente do posicionamento... obrigado, Jerónimo Carvalho de Sousa

Alguns dos pilares mais relevantes de uma democracia plena e dos mais elementares princípios que defendo/preconizo, seja na vida pessoal ou profissional, seja na ética política, é o da coerência, da lealdade, do respeito e a defesa dos valores. Independentemente de posicionamentos ideológicos e/ou político-partidários, ou de conceções de sociedade e de vida.
Por mais altos e baixos, por maior ou menor montanha russa que a vida nos proporcione, há linhas vermelhas, princípios e valores dos quais abdicar significa perder a dignidade, o respeito e a ética e a moral.

Não há qualquer proximidade ideológica ou de conceção social entre mim e o PCP. Muito menos depois do posicionamento do partido em relação à Guerra/Invasão (bárbara e cobarde) da Ucrânia por parte da Rússia.
Mas de igual modo, não tenho qualquer tipo de constrangimento em reconhecer que a política portuguesa, a sua maturidade, a defesa dos trabalhadores e dos mais desprotegidos, teve no Partido Comunista Português um contributo inquestionável. Mesmo que o PCP, em momentos relevantes da atividade parlamentar (por exemplo, nos múltiplos reconhecimentos públicos - votos de louvor ou pesar - em que se absteve ou votou contra, só por mera "obstrução ideológica"). Assim, como tenho a maior das facilidades em reconhecer o papel estadista de Álvaro Cunhal (algo que já não consigo fazer em relação, por exemplo, à atual estrtura do PSD, pela qual não nutro qualquer empatia ou reconhecimento).

Por tudo isto, não agradecer o papel e o trabalho político realizado por Jerónimo de Sousa, neste seu momento de despedida da vida política pública (renuncia ao lugar de deputado na Assembleia da República) e de passagem de testemunho na liderança do PCP (abandona o cargo de secretário-geral), seria de uma colossal falta de respeito e de consideração "ética e moral".
É certo que a maior parte dos portugueses ficaria mais sensível à lista de recordes do José Mourinho ou do Cristiano Ronaldo. Mas é importante lembrar, sem esquecer todo o seu passado laboral e sindical, que Jerónimo de Sousa era, tão somente, o único deputado que esteve na primeira Constituinte de 1974; que era, desde 2002 (há 20 anos) consecutivamente eleito como deputado; e o Secretário-geral do PCP que, após o 25 de Abril, mais tempo ocupou o cargo (2004/2022 - 18 anos), à semelhança de Álvaro Cunhal (1974-1992 - 18 anos).

À questão de saúde (eventualmente a principal razão para a mudança na liderança comunista, quando em setembro era afastada pelo próprio Jerónimo de Sousa), não podemos alhear o declínio eleitoral do PCP, agravado em 2022 quando ficou reduzido a apenas 6 deputados na Assembleia da República, ou com a perda de peso político autárquico; os impactos sociais e políticos de novas dinâmicas sindicais que o partido não soube explorar; a redução de trabalhadores sindicalizados na sua central sindical; a redução da militância (muito pelo "envelhecimento" das suas bases); as posições transacionais que o PCP recentemente assumiu; ou a própria dificuldade financeira que atravessa a estrutura (pesada) do partido.

Mas isso não invalida o reconhecimento de uma das figuras mais carismáticas e relevante no Partido Comunista Português e na vida política nacional.

Obrigado, "camarada " Jerónimo. Bom descanso.

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(fonte da foto: LUSA)

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