O 'olhar' pelo véu do presente no Afeganistão
(ilustração de Marilena Nardi https://www.instagram.com/_marilena_nardi_/, em jornal Público)
Assinalaram-se, ontem, três anos (30 de agosto de 2021) após a retirada das forças militares da NATO (Estados Unidos, Reino Unido, França, Canadá, Alemanha, juntando-se, a estas forças, a Austrália) do Afeganistão, avivando a memória dos dantescos acontecimentos no aeroporto de Cabul.
Em 2 anos, com o mundo a assobiar para o lado, completamente distraído paralisado com a pandemia e com o foco geopolítico centrado (por manifesto interesse político e económico) na Ucrânia e na Faixa de Gaza, a ascensão dos Talibã ao poder trouxe um completo retrocesso nos direitos das mulheres afegãs que quase faz parecer o xiismo jafarita do Irão ou o judaísmo ortodoxo israelita um conto de fadas, ou o livro “Identidade e Família” o ‘País das Maravilhas’.
Reduzir a mulher, sem qualquer direito ou dignidade, sem qualquer valor, apenas à única satisfação da vontade masculina e ao seu mero serviço, tal como - e meço bem as palavras – um animal doméstico, não tem qualquer explicação, justificação, argumentação teocrática, científica ou cultural, a não ser a condenável e repulsa por tamanha abjeção dos mais elementares e fundamentais direitos e igualdades. Mais recentemente, proibidas de cantar, falar, sussurrar ou suspirar em público. Resta-lhes, ao menos, o poder respirar. E mesmo isso porque interessa aos homens.
Apesar de tudo, mesmo com o mundo de costas voltadas para o país, ainda há mulheres afegãs que resistem, lutam e desafiam o próprio destino pela sua liberdade e dignidade. Triste humanidade.
(texto completo na edição de segunda-feira, 2 de setembro, do Diário de Aveiro).
Após as mais recentes proibições de género no país, tempo para recordar a campanha de protestos protagonizada por mulheres afegãs.