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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

O país vai a votos

legislativas_2015.gifpublicado na edição de hoje, 30 de setembro, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos
O país vai a votos

Estamos a quatro dias das eleições legislativas. Umas eleições marcadas por um conjunto significativo de contextos: a mudança ou não de cor partidária à frente do governo; a validação ou a negação das políticas que foram aplicadas e exigidas neste período de resgate e ajustamento; o sentido que darão os portugueses aos sacrifícios a que estiveram sujeitos, nestes quatro anos, para a estabilização e recuperação (mesmo que ainda muito demorada) do país; a eleição de um governo maioritário ou minoritário, com todos os cenários possíveis, apesar das mensagens na campanha, de coligação ao centro ou à esquerda (já que à direita ela esgota-se na própria PàF).

O sentido de voto e o número de votos expressos deverão ser diversificados: na continuidade da governação, com menos ou as mesmas exigências (PSD-CDS); na mudança, para alguns vista como retrocesso (PS); na alternativa (Livre); no radicalismo (PCP e BE); na decepção com o sistema político e com os partidos (os novos movimentos cívicos e partidos emergentes); ou no voto de indiferença e “protesto” (brancos/nulos).

Numas eleições marcadas por um aumento do número de forças políticos que estão legalmente aptas a ir a votos (desde as primeiras legislativas e anos consequentes a abril de 74 que não se registava tão elevado número de opções de voto – cerca de 16, com especificidades em alguns círculos eleitorais como, por exemplo, nas regiões autónomas) seria expectável que, face ao leque de opções de voto e à movimentação política da sociedade, o número de abstenções pudesse baixar. Acontece que pelo desenrolar da campanha, incompreensivelmente demasiado centrada nas polémicas e casos marginais/paralelos, e pela própria opção editorial da comunicação social focada quase que exclusivamente nos dois potenciais futuros primeiros-ministros (Passos Coelho - PSD/CDS e António Costa - PS) limitando e subvertendo o que é o verdadeiro sentido da democracia eleitoral, a decepção e desilusão instalou-se no universo dos eleitores. A campanha e política eleitorais estiveram demasiado focadas nos debates televisivos, nas interpretações e aproveitamentos das sondagens diárias, nas acções e “arruadas” geograficamente centradas nas zonas que, em termos de número de eleitores e deputados a eleger, marcam os resultados (Lisboa, Porto, Braga, Setúbal e Aveiro).

A campanha que se aproxima a passos largos do seu clímax, com os jantares/comícios de encerramento, esqueceu a maioria dos portugueses, a interioridade dos portugueses e do país, foi excessivamente demagógica e retórica quando deveria ter sido, na sua mensagem, clara e transparente, com demasiado saudosismo ou enfoque crítico num passado recente. Não será por isso de estranhar que a coligação faça “arruadas relâmpago” (mesmo que concorridas) ou que o PS cancele o jantar no Europarque de Santa Maria da Feira ou ainda que nem todos os círculos eleitorais estejam representados, de igual modo, nos boletins de voto por falta de candidatos. Muito menos é de estranhar que os debates televisivos tenham sido relegados para segundo plano nos dados das audiências que registaram a preferência dos portugueses nas telenovelas.

Mas à parte de todos estes contextos é importante que os portugueses criem outro tipo de mentalidade política e eleitoral. Para que tenhamos partidos, políticos e instituições com credibilidade, com rigor, os portugueses têm que ser mais críticos, mais participativos, mais exigentes. Encolher os ombros, virar as costas, absterem-se para depois criticar, só agravará o estado crítico da política portuguesa e da própria sociedade.

É óbvio que a participação político-partidária ou cívica não se reduz a um gesto repetido de quatro em quatro anos (por exemplo, nas legislativas). Mas que votar é um marco que pode e deve fazer a diferença, para além de um dever cívico e o uso de um direito que tanto custou conquistar, é inquestionável.

Dia 4 de novembro… Votemos, em liberdade e em consciência porque Portugal é de todos.

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