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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

O perigo de se "assobiar para o lado"

o pior que a política pode ter são momentos de avestruz...

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(créditos das fotos: Tiago Sousa Dias)

É conhecido a expressão popular "fazer como a avestruz e enterrar a cabeça na areia" (fingindo não ver nada, alheando-se das adversidades... mesmo que tal afirmação não corresponda à realidade da sua natureza animal). Mas é esta a analogia e a alegoria populares.
Na política, esta realidade é o pior dos seus mundos, criando um sentimento público de incoerência, de falta de responsabilidade e de ausência de identidade ou personalidade política, partidária e ideológica.

No caso do PSD, com a chegada de Rui Rio à liderança social-democrata, uma das referências políticas centrou-se na redefinição do posicionamento ideológico do partido: ao Centro. Finalmente, o reencontro do PSD com o adn da social-democracia que esteve na génese da fundação do partido, tão protagonizada por Francisco Sá Carneiro.

Tendo como referência o sentido de Estado que Rui Rio tão apregoa e, na realidade, implementa (e bem), não é possível aceitar, de forma leviana, simples e linear, que o líder social-democrata, fazendo jus ao seu sentido de ética política e de coerência ideológica, não venha, publicamente, desmarcar o PSD da manifestação ocorrida ontem (sábado - 1 de agosto) do partido Chega, em Lisboa.

Por si só, torna-se perigosa a convivência parlamentar e institucional com a propaganda da extrema-direita (fosse à esquerda e o processo seria rigorosamente igual). Pior ainda é verificarmos, em pleno palco da manifestação, uma bandeira do PSD.
Aos militantes, simpatizantes e eleitorado, enquanto cidadãos livres e com legítimo direito de personalidade (liberdade de pensamento), cabe as opções pessoais, individuais e de consciência, sendo que cada opção que é feita há uma consequência prática, um impacto óbvio, dos actos assumidos.
Mas o uso do símbolo máximo de um partido não pode ser assumido como um acto individual, já que ele representa um colectivo. Portanto, das duas uma: ou Rui Rio condena a presença da bandeira do PSD na manifestação e o partido actua disciplinarmente em relação ao seu portador, ou então Rui Rio permite que o PSD assuma uma proximidade partidária com o Chega, deitando por terra todos os princípios sociais-democratas que o partido defende e todo o esforço de reposicionar ideologicamente o PSD no centro partidário.
Mais grave ainda... defrauda tantos e tantos (e não serão assim tão poucos) que, como eu, não se revêm nessa perigosa, condenável e criticável aproximação política.

E quanto mais tarde surgir a declaração de Rui Rio pior fica o cenário de distanciamento partidário e ideológico (e social, também)... é que a política também tem memória ( e, na maioria dos casos, não é tão curta como se quer fazer crer).