Obrigado, pela defesa dos valores democráticos e pela dignidade parlamentar. Contra tudo e contra muitos.

(crédito da foto: Manuel de Almeida / LUSA)
Mesmo com eventuais recursos de recontagem de votos que ainda possam surgir, ficou inevitável a não eleição de Augusto Santos Silva como deputado pelo círculo Fora da Europa, pelo Partido Socialista.
Termina, assim, a sua participação enquanto deputado na Assembleia da República, juntando-se a outras ausências fruto dos resultados eleitorais de 10 de março (para analisar na próxima segunda-feira, no Diário de Aveiro). Algumas com algum peso significativo, como, por exemplo, a do aveirense Porfírio Silva, considerando o trabalho parlamentar que desenvolveu na área da Educação, para além da sua disponibilidade comprovada para a promoção da democracia e da cidadania junto da comunidade escolar do Distrito de Aveiro, círculo pelo qual foi eleito em anteriores legislaturas.
O que realça na não eleição de Augusto Santos Silva não é o facto de, por si só, não ter sido eleito. Isso faz parte da democracia… uma vez ganha-se, outra vez perde-se. São as circunstâncias da escolha, legitima e democrática, dos eleitores.
O que é questionável e condenável é a imbecilidade com que muitos, demasiados, alguns (bastantes) dos que, inclusive, vetaram e bloquearam a eleição de um vice-presidente da Assembleia da República (nomeadamente na presidência de Rui Rio no PSD), festejaram euforicamente esta não eleição.
Tudo isto diz muito do que se espera da democracia em Portugal e do próprio Parlamento, após 10 de março de 2024.
A argumentação pífia do “karma político”, com a acusação, sem qualquer sentido e valor, de que Augusto Santos Silva, na sua condição de presidente da Assembleia da República, contribuiu para o desfecho e para o mediatismo do Chega, é uma realidade condenável e criticável por ser do mais surreal e mitológico que se possa imaginar e que se queira fazer valer por verdade.
Ninguém ousou, teve a coragem e a hombridade de Augusto Santos Silva na defesa da democracia, na defesa do valor do Parlamento, na valorização da dignidade da função e imagem política dos deputados e dos partidos, combatendo, enfrentando (tantas vezes sozinho, mas de forma veemente) e criticando o Chega pelo seu populismo, pela afronta aos valores democráticos, pelos ataques permanentes à dignidade humana e ao respeito pela pluralidade através do racismo, da xenofobia, do sexismo e do fascismo.
Não fora este excelente desempenho democrático (porque da defesa da democracia se trata) e o Parlamento teria virado um completo recreio de uma qualquer escola primária ou de uma das "piores bancadas futeboleiras".
Se pagou essa fatura? Pagou, e sozinho. Mas, garantidamente, de cabeça erguida, com responsabilidade política e sentido de Estado, com a consciência de um dever e missão cumpridos, com zelo e dignidade. E com uma clara e inquestionável coerência política e democrática, algo que a falta de ética política de muitos, de muitos que, hoje, batem palmas à sua não eleição, a falta de assunção dos compromissos e afirmações proferidas, não permite aos "não é não" terem e assumirem.
A história, se calhar para desalento de muitos e da própria democracia, encarregar-se-á da sua distinção e do seu valor.