Pensar Aveiro não pode ser Desvalorizar Aveiro

Não havendo a travessia da Ria para São Jacinto para anunciar (bem ou mal, ao menos seria uma ideia, um projeto, um plano… já que nada mais há) esperava poder ser mais concreto e pragmático na resposta à questão que Alberto Souto levantou a propósito da vinda de dois Secretários de Estado (e aqui não vale a pena rasgarem vestes porque foi nessas duas condições que foram anunciados à comunicação social), Emídio Sousa (Secretário de Estado do Ambiente) e Silvério Regalado (Secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território): “O que virão cá fazer?”.
Não havendo nada de concreto ou de pragmático, a resposta é, no entanto, simples: Nada! Ou praticamente quase nada, a não ser, de forma absurda e ridícula, a de servirem de porta-voz (já que nem isso a candidatura do PSD Aveiro sabe ou consegue fazer) de confronto político com Alberto Souto e o PS Aveiro. Mas sobre isso, sendo essa a cartilha político-partidária do PSD de hoje, acrescido do desespero em que caíram por única e exclusiva responsabilidade do seu líder, importa a indiferença e o desprezo. Nada mais. Principalmente, considerando, por exemplo, a questão financeira (ou da ‘saúde financeira’) não se reconhece moral política se olharmos para o que foram as contas municipais de Vagos, nos últimos anos. Adiante…
O que é relevante é que da jornada “Pensar Aveiro” não saiu um único pensamento ou estratégica para Aveiro e para os aveirenses. A não ser as referidas deploráveis críticas (nomeadamente de quem é de “fora” e nada tem a ver, e nunca teve, com Aveiro); a não ser que cada vez fica mais clara a escolha exclusiva da estrutura nacional apenas movida pelo confronto político com o anterior PSD Aveiro e com Ribau Esteves (aliás, com tanto desejo e vontade na continuidade ninguém do Executivo, nem o próprio líder autárquico, marcou presença… ao menos para transmitir o legado); a não ser o anúncio de uma candidatura à Freguesia de S. Jacinto sem que se conheça uma estratégia, uma ideia, um plano para aquele local tantas vezes esquecido (à semelhança do que não se conhece para o Município como um todo).
Pensava eu que a vinda dos dois secretários de Estado referidos (já que não há Ponte para S. Jacinto) fosse sinal de que Aveiro sofreria mais uma derrota no jogo dos investimentos públicos, de políticas públicas e de desenvolvimento regional. Vá lá… felizmente, desta vez, não. Embora também não tenham trazido nada, acrescentado rigorosamente nada, nem, por exemplo, nenhuma matéria estratégica para a trágica deterioração da nossa Orla Costeira (dadas as tutelas dos dois governantes).
É que há quem goste tanto de embandeirar em arco, encher o peito, a alma e a voz, com as relações afetivas e de proximidade com o atual poder (mesmo que gestionário), mas a verdade é que, tal como dizia há anos Carlos Candal, Aveiro não tem peso político nacional, apesar da sua relevância para e na região Centro.
Em apenas um ano, Aveiro perdeu no processo da eliminação das portagens na ex-SCUT (e escusam de vir já com o dedo em riste e aos gritinhos porque o ‘mal’ foi distribuído por todos)… Aveiro ficou de fora, novamente, nos recentes anúncios de investimento na saúde, nomeadamente no Hospital de Aveiro (e até nesta área é notória a desvalorização de Aveiro no panorama regional e nacional, basta ver o que foi a dificuldade com o processo de creditação do curso de Medicina na UA, a reação de Ovar – nomeadamente do PS local contra o Governo PS – criticando a inclusão na ULS de Aveiro)… Aveiro, mais uma vez (e esta é uma realidade já bem longa e que sempre alertei para o ‘engodo’ discursivo) perdeu no investimento na Linha do Vouga em benefício para a zona norte da região (distrito) e a sua ligação à Área Metropolitana do Porto… Aveiro volta a perder, há poucos dias, quando o Governo mandatou a Infraestruturas de Portugal para “que promova a realização dos estudos necessários à tomada de decisão” (sic, comunicado do Conselho de Ministros), dando um claro sinal de adiamento, desvalorização ou menosprezo pela ligação Aveiro – Salamanca.
Mais uma vez, infelizmente, como tantas vezes referi… Aveiro perdeu (4-0, apenas num ano, é uma derrota pesada), os Aveirenses perderam.
E face ao silêncio e à apatia e resignação (características tão nossas, infelizmente)…
Falhámos todos.