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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Por uma questão de honestidade e ética política

Urgências Hospitalares.jpg

Da honestidade…
Hospital das Caldas da Rainha.jpg

Há algumas coisas e contextos que facilitam as críticas ou as apreciações negativas ao Serviço Nacional de Saúde ou, até, à saúde em Portugal, de forma geral. Mas há outras que ultrapassam qualquer questão governativa, política, ideológica, estrutural, etc., etc.

Não sei, nem tenho qualquer informação concreta que me permita emitir qualquer tipo de “julgamento” ou avaliação, ou, ainda, atribuir qualquer responsabilidade direta.
Mas sejamos, no mínimo, honestos e sinceros na apreciação.

A condenável situação que envolveu uma mulher, de 37 anos, grávida, que sofreu um aborto espontâneo (tinha o feto dentro de um saco e estava com uma hemorragia incontrolada, dentro do seu carro) e viu severamente dificultado o seu acesso às urgências do Hospital das Caldas da Rainha (apenas foi atendida após insistência do CODU e dos bombeiros, segundo o comandante da corporação de bombeiros das Caldas da Rainha), não tem nada de político ou de gestão governativa.
Nem sei se será de ordem técnica ou profissional.

O que está aqui em causa, mais do que uma questão de bom senso e razoabilidade, é uma questão de humanismo e de dignidade, de direito e de moral, que foi, simplesmente, ignorado.
Sejamos claros. Isto não pode, nem deve ser “arma de arremesso” político.
Há, também, infelizmente, muito mais para criticar.

Da ética…
Hugo Soares - joão relvas, lusa.webp

Ouvir Hugo Soares, líder da bancada parlamentar do PSD, secretário-geral do partido, falar de “responsabilidade”, “mão na consciência” ou “sentido de Estado / unidade”, demonstra e espelha o ridículo que é o seu papel político, a falta de ética e de honestidade. É de uma ligeireza e baixeza política deplorável.

Nunca houve ninguém, no PS ou no país, que alguma vez tenha afirmado que a Saúde em Portugal não tem problemas e não é uma realidade complexa. Ponto. Vir dizer o que quer que seja em contrário ou aproveitando para sacudir responsabilidades (graves) políticas com o passado, é lamentável, mesquinho e abjeto.

E todo este choramingar, tão característico do líder da bancada social-democrata (hoje, como no passado) serve apenas para tentar (e mal) varrer para debaixo do tapete que:
1. Na anterior maioria estava em curso, há cerca de um ano, interrompida com o fim prematura do ciclo governativo, a reforma do SNS protagonizada pela Direção Executiva, liderada por Fernando Araújo. Algo elogiado pelo setor, fora dos contextos políticos, tal como foi referido e alertado quando o atual Governo decidiu deitar ao lixo esse processo que dava os primeiros passos.
2. Quem agitou a bandeira da solução do fim da crise do SNS, que projetou o Plano de Emergência para 60 dias, foi, pura e simplesmente, este Governo e Luís Montenegro. Enganaram os portugueses e os profissionais. Foi (é) um logro político e uma incompetência governativa.
3. Quem transfere a responsabilidade governativa, de gestão e política, que é a sua função principal, para as Administrações Hospitalares, sem qualquer respeito e confiança institucional, é a atual Ministra da Saúde, algo que nunca se viu na história da democracia.
4. Quem (Montenegro), em 2023, rasgava vestes e acusava António Costa de incompetência para resolver os problemas do SNS, não tem agora, qualquer moral ou legitimidade para vir apelar a unidade e pedir ajuda.
5. Quem prometeu, repito prometeu (só com o objetivo eleitoralista), a solução para o SNS, o prazo para a implementação de um Plano, e falhou, limitando-se a rasgar tudo o que estava em curso (Plano da reforma do SNS, as USL, os recrutamentos, etc., etc., etc.) foi o atual Governo. Afinal, apesar de tantos anúncios eleitorais, chega-se à conclusão que há uma mão cheia de nada e a outra de um total vazio. Nem ideias, nem plano, nem soluções, nem reforma.
6. Em relação às piores crises hospitalares de 2023, os condicionalismos nos serviços aumentaram 305%, em relação a igual período de 2023, e os encerramentos das urgências aumentaram 40%. Não foi no Governo do PS, foi no da AD.
7. Quem exigiu aos Hospitais que não divulgassem, publicamente, ou que a informação fosse condicionada, o número de urgências encerradas, com o mero objetivo de iludir os portugueses e a sociedade, fazendo crer e transparecer uma imagem de resolução de eficácia governativa, foi este Governo. Do “caos” passou-se, candidamente, para “constrangimentos”, apesar dos dados e dos factos.

O resto é pura demagogia, populismo e uma inaceitável falta de honestidade intelectual e ética política. Porque bem sabemos a rejeição do PSD e CDS à aprovação da Lei de Bases do Sistema Nacional de Saúde, em 1979 (há 45 anos) e bem sabemos para onde o PSD quer conduzir o SNS desde que Cavaco Silva (um dos piores Primeiro-ministro do país) aprovou, em 1990, a nova Lei de Bases da Saúde com a introdução massiva do peso do privado na saúde em Portugal. Não vale a pena disfarçar mais.

(fontes e créditos das imagens: cnn portugal; saúde mais tv; João Relvas / lusa, in jornal expresso)