Rigor e objetividade não rimam com ambiguidade
sobre o ECO online
Entende-se por notícia o relato de um acontecimento factual, novo ou que introduza novidade relevante sobre um facto existente, de interesse público (distinto de “do interesse do público”), sustentado no rigor, na clareza, na objetividade e na imparcialidade, cumprindo requisitos e regras do género jornalístico (nomeadamente, a resposta às 5 ou 6 questões básicas) e as normas éticas e deontológicas profissionais.
Ao título de uma notícia cabe despertar a atenção, atribuir valor à informação, descrevendo, de forma muito curta, o conteúdo da notícia ou o facto noticiado. O que não lhe retira clareza, rigor e objetividade. De outra forma, é mera especulação, indução ao erro ou inverdade factual.
Estes são alguns princípios básicos de uma notícia, entre outras questões técnicas para a sua elaboração/construção e definição.
Quandse torna possível ou se permite questionar a ligação entre o título e a notícia (lead e corpo), quando a sua relação é dúbia ou leva a interpretações distintas, quando desacerta no rigor, o título falha e não cumpre a sua função.
Quando isto se torna claro aos olhos/ouvidos públicos, quando é demasiado evidente, para além de reforçado com imagens bem determinadas e específicas, então resta a suspeita e a crítica.
Promover ou publicitar, no espaço público (exemplo recolhido na rede social "X"), uma notícia com a frase “Imigrantes a ganhar o salário mínimo estão dispensados de descontos em IRS”....que afinal tem como título “Imigrantes a ganhar o salário mínimo arriscam descontar 25% em IRS”, encerra, do ponto de vista jornalístico dois problemas. Primeiro, não traduz novidade nenhuma porque é uma mera redundância e evidência: qualquer trabalhador que aufira o salário mínimo está isento de IRS. Segundo, e olhando concretamente para a publicitação da notícia e para o seu título, ambos não correspondem ao corpo da notícia, ao que está em causa na informação noticiada que diz respeita a imigrantes, a trabalhar em Portugal, mas não residentes (pelo menos sem morada fiscal em Portugal).
Mas o que está em causa, vai para além do jornalismo. Ou melhor, implica o jornalismo num determinado contexto social e político.
A sociedade, o mundo, vivem tempos complexos e complicados em relação a princípios essenciais como a dignidade da pessoa, a liberdade, os direitos fundamentais, o racismo, a xenofobia e a exclusão social.Expor a realidade social da imigração, sublinhada com a ilustração de uma imagem que acompanha a publicitação da notícia, exclusivamente composta por trabalhadores imigrante negros, sem cuidar do rigor e objetividade, alimentando os extremismos e a propaganda xenófoba que cresce na sociedade e na política, para além de criticável e condenável, transforma-se num problema para o jornalismo e para o jornalista. Por mais mais argumentos de involuntário, irrefletido ou inocente que queiram proclamar. Os erros e os lapsos, no jornalismo, para além de evitáveis, trazem impactos e consequências e devem ser ou corrigidos ou, no mínimo, explicados.
Não o fazendo, nada invalida a opinião (e a crítica) de, afinal, poder configurar numa manifesta intencionalidade.