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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Sem jornalismo não há democracia. Ponto.

DN - jornalistas em luta.webp

(crédito da foto: Miguel A. Lopes / Lusa)

Escusam de vir com a retórica do "chavão"... é um facto que muitos teimam em não querer aceitar e que outros tantos persistem em desvalorizar porque dá jeito a populismos e a determinadas narrativas.
E por mais simples que seja a crítica e acusação fácil à qualidade do jornalismo e dos jornalistas, tantas vezes injustamente (mesmo que nem sempre), a verdade é que a democracia precisa de um jornalismo livre e consistente para sobreviver, como qualquer um de nós precisa de ar para respirar.
Sejamos claros: sem jornalistas não há jornalismo… sem jornalismo não há democracia. Esta é uma inquestionável realidade.

A propósito... o Sindicato dos Jornalistas anunciou a marcação da greve geral dos jornalistas para o dia 14 de março, no seguimento da aprovação unânime no 5.º Congresso dos Jornalistas. Há mais de 40 anos que os jornalistas não convocavam uma greve geral para, legitimamente, se manifestarem contra os baixos salários, a precariedade e a degradação das condições de trabalho. E podiam, infelizmente, acrescentar muito mais: a sustentabilidade do setor, a valorização profissional, a liberdade de imprensa... e por aí fora.

Também a este propósito... é importante recordar a crise que tem afetado (e que parece que muitos já esqueceram) o Grupo Global Media.
Nos últimos dois meses de 2023 e no arranque de 2024 foram várias as iniciativas, manifestações, ações e campanhas de solidariedade e audiências parlamentares em defesa dos profissionais da Global Media e de vários dos seus títulos, como o JN, o Jogo, o Dinheiro Vivo, a TSF e o DN.
Não sei se por força dessas ações, das várias manifestações da sociedade, ou simplesmente pelo inquestionável empenho e resiliência dos profissionais, a verdade é que a TSF, o JN, O Jogo e as revistas Evasões, Volta ao Mundo e Noticias Magazine, entre outros, viram a luz ao fundo do túnel e, tudo indica, que está encontrada a solução de viabilidade destes títulos.

Só que, estranhamente, caiu, abruptamente, um silêncio, público e mediático, aparentemente esquisito e incompreensível, salvo as constantes vozes de alerta vindas do seio do DN (como, por exemplo, e mais recentemente, este excelente texto da jornalista Margarida Davim).
Desmantelado o grupo Global Media, a pergunta que obrigatoriamente se tem que fazer é: E o Diário de Notícias?
Que destino e que futuro tem a publicação mais antiga do país (160 anos - 1864... mais antiga que o JN), declarado Tesouro Nacional em julho de 2022, ao fim de cerca de 6 anos de um longo caminho tortuoso?

De repente, as manifestações e as vozes solidárias calaram-se. De repente os holofotes do espaço público fundiram-se e apagaram-se. De repente parece que há um elefante no meio da sala que ninguém quer ver, nem falar.
De repente o país (todos nós) parece não saber (ou não querer saber) cuidar dos seus tesouros nacionais.

De repente já pouco parece importar se #somosDN ou não.

E sublinhando o título do texto de Margarida Davim ("A fome que passamos deixará todos sem voz"), não se pense que os impactos de um jornalismo em crise apenas se compaginam com o encerramento de órgãos de comunicação social (que, infelizmente, ao longo da história da imprensa portuguesa sempre aconteceu) ou com o problema social dos despedimentos com consequências para os seus profissionais e famílias (o que, aliás, é o problema de qualquer contexto laboral em crise). Por si só estas duas realidades seriam, obviamente, preocupantes e graves. Mas há muito mais… são igualmente preocupantes os “estilhaços” e reflexos desta crise na garantia e estabilidade da democracia. E isso deve ser preocupação de todos nós.

Que o dia 14 de março não perca esta memória e esta causa... se ainda houver tempo.