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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

StayAway demagogia

Como uma APP cria (propositadamente) ruído para distrair os olhares do essencial

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Com a polémica instalada em torno da aplicação móvel "StayAway Covid", António Costa consegue, de uma assentada, matar três coelhos com uma só cajadada.

1. Desvia toda a atenção política para a "tensão" gerada com (e pelos) os partidos à esquerda,  relacionada com a aprovação do Orçamento do Estado para 2021, bem como retira espaço crítico ao centro (PSD) e à direita em relação a esse mesmo Orçamento. Não houve um único partido com assento parlamentar que não tecesse considerações democráticas sobre a questão.
2. Retira espaço e oportunidade mediática para a contradição política do Governo na gestão do processo TAP, após a operação de salvação financeira da companhia aérea.
3. No âmbito da declaração e entrada em vigor da Situação de Calamidade, com o aumento significativo do número de casos positivos diários, a "preocupação" do combate à pandemia deixou de ser a pressão sobre o SNS e os profissionais de saúde, o eventual agravamento de medidas restritivas ou a preocupante perspectiva de novo confinamento. O foco passou a ser uma aplicação tecnológica que apenas serve para rastrear focos e surtos.

Deixemo-nos de ilusões... o anúncio da intenção do Governo em tornar a app StayAway obrigatória (por si só... ridículo) é um mero exercício de retórica e de demagogia para criar ruído face às dificuldades, mais que provadas e comprovadas, no combate à COVID-19 e respectivos impactos na economia, na educação, na acção social, nas rotinas dos portugueses, na saúde (pública do SNS). Já para não falarmos nas críticas generalizadas ao Orçamento do Estado para o próximo ano, que apenas responde, tenuemente, a algumas necessidades imediatas de resposta social, sendo ineficaz no que respeita às dificuldades que as famílias e o país encontrarão a curto prazo (2022/2023), à crise económica, ao declínio da sustentabilidade do sector empresarial e comercial e da sustentabilidade financeira de muitas famílias que já não conseguem cumprir com os seus compromissos mais elementares e básicos, ao desemprego, às próprias finanças públicas.

De repente, com um mero soundbite apropriado ao momento, o país desfocou-se do essencial para mergulhar num Não caso ou numa Não questão.

Primeiro, não faz qualquer sentido, nem tem qualquer argumentação lógica, a obrigatoriedade legal do uso de uma mera ferramenta e aplicação móvel que não poroduz qualquer impacto na prevenção ou na mitigação da pandemia, apenas alerta e rastreia factos consumados (casos positivos). É, manifestamente, um intrumento a jusante e vale o que vale por isso mesmo.
Segundo, é completamente obtusa a obrigatoriedade do uso da aplicação móvel já que essa obrigação colide, claramente, com as liberdades e garantias dos cidadãos, nomeadamente no que respeita à sua liberdade de opção e à sua privacidade (não do ponto de vista técnico, mas sim em relação à liberdade de escolha e ao processo de fiscalização).
Terceiro, não menos relevante, com toda esta polémica o Governo volta a sacudir responsabilidades e transfere para os cidadãos o falhanço do investimento (dinheiro público - cerca de 400 mil euros) usado para a implementação da app e a sua utilização: quase 1,7 milhões de descargas da aplicação (até ontem) não significam 1,7 milhões de utilizadores activos; no início desta semana, quando os números de casos positivos diários dispararam para númerso superiores a março/abril deste ano ("primeira vaga"), apenas foram gerados, pela saúde, 430 códigos para os doentes registarem na aplicação e destes apenas 113 o fizeram (segundo o INESC TEC, titular da aplicação, deveriam ter sido gerados cerca de 3.600 códigos).

Mas o Governo prefere criar estas polémicas e não assumir responsabilidades (a culpa de qause tudo o que acontece na pandemia é do cidadão) em vez de promover acções e campanhas que sensibilizem, fortemente, o uso da aplicação (para quem pode e tem recursos técnicos para tal) e desmistificar algumas dúvidas quanto à fiabilidade técnica da app e à sua segurança. Colocar no mesmo patamar medidas restritivas de combate à pandemia ou o uso obrigatório de máscara em espaços públicos abertos (ar livre) com uma aplicação de restreio é, no mínimo, surreal.

Tenho a aplicação descarregada e activa desde o primeiro dia do seu lançamento... não teria (porque não vai acontecer) qualquer constrangimento em eliminá-la no primeiro dia em que fosse obrigatória.

2 comentários

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    José Gonçalves 21.10.2020

    Que acções e/ou campanhas, poderão ser lançadas, para que algumas pessoas não continuem a atirar para o chão as máscaras usadas?
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