Títulos "à la carte"
infelizmente, numa plena coincidência com o 5.º Congresso dos Jornalistas
(fonte da imagem: adaptado/recorte da infografia da revista Visão - 15.01.2024 / 08:00)
É indesmentível que há, nalguns órgãos de comunicação social, uma escondida "agenda editorial", mais ou menos camuflada para não colidir com o código e regime jurídico do jornalismo.
Um das formas de contornar o rigor, a ética, a transparência e a isenção é recurso a títulos de notícias feitos à medida do fato que se quer vestir, focados no que dá mais jeito à tendência editorial.
Numa questionável e criticável (para não dizer, condenável) coincidência de edição, o semanário Novo Sol (antigo jornal Sol) publicava uma sondagem em cima do anúncio público da formação da AD para as eleições de 2024-2025 (Açores, Legislativas, Europeias e Autárquicas). Na manchete, bem destacada na capa da edição de 22 de dezembro, podia ler-se "Aliança PSD+CDS+IL ficaria à beira da maioria absoluta" (sondagem Consulmark2), sendo que a capa trazia ainda uma outra nota dessa sondagem que demonstrava a nova AD com 37,6% de intenções de voto contra os 24,1% do PS.
Menos de um mês depois, o mesmo jornal semanário opta por divulgar, com direito a chamada de capa com relevância, um nova sondagem da mesma empresa que revela, agora, a AD com 28% da intenção de voto e o PS com 27%.
Nesta edição, de ontem, o título espelha essa diferença percentual: "AD e PS empatados, (...)". para nas páginas 6 e 7 serem demonstradas as diferenças percentuais para a última sondagem (22 de dezembro).
É indiscutível que o título na capa da edição de ontem é revelador de um facto: os 28% da AD e os 27% do PS significam um empate. Mas é estranho que não haja, face à comparação dos valores da amostragem, que o jornal não refira, por exemplo, "AD em queda livre, perde quase 10% de intenções de voto em menos de um mês" (37,6% para 28%). Ou até, pegando no que é descrito no subtítulo, "Socialistas sobem 3% e anulam diferença para uma AD em acentuada queda".
Tudo seria mais lógico, mais rigoroso e transparente. De outra forma, apresentam-se títulos conforme as conveniências de agenda.
Mas tudo teráa também o seu devido tempo... falta particiamente um mês e meio para 10 de março, com eleições legislativas regionais no Açores, com impactos prováveis nas eleições legislativas nacionais (como se explica na próxima segunda-feira, no Diário de Aveiro).
Até lá, uma recomendação... uma leitura quase que obrigatória (pelo menos para quem queira aprender).
"Como mentem as sondagens", de Luís Paixão Martins (edição da Zigurate).