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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Um Natal pandémico... "the dark side"

ou outros números e realidades esquecidas da COVID-19

É tido como facto. O SARS-Cov2 enquanto problema grave de saúde pública e a sua propagação pandémica (as infecções e os contágios, os internamentos e, infelizmente, os demasiados óbitos); a ciência e o esforço recorde para a descoberta e validação de uma vacina(s); a saturação do SNS e o esforço heróico, ininterrupto, dos profissionais de saúde (entre outras profissões que mantiveram alguma normalidade nas nossas vidas, nas nossas rotinas e na sociedade: segurança e protecção civil, educação/ensino, distribuição, recolha do lixo e limpeza urbana, farmácias, transportes, produtos essenciais/alimentação, por exemplo); o funcionamento do Estado de Direito e das suas instituições, bem como do Poder Local, que foram garantindo a manutenção da democracia e da (a)normalidade da sociedade; entre confinamentos e desconfinamentos, entre mais ou menos incoerências e erros, entre melhores ou piores comportamentos sociais foram marcando o dia-a-dia e a agenda internacional desde fevereiro deste ano.

Mas tal como numa guerra ou batalha, regressando à metáfora tantas vezes repetida para ilustrar a gravidade da realidade, também este combate e a própria vivência da pandemia trouxe danos colaterais. O principal, depois da saúde, é, sem dúvida o impacto da COVID-19 na economia e, não menos relevante, também na socialização.

Por isso, importa neste Natal, já por si, particular e diferente, não deixar cair no esquecimento realidades bem marcadas pelos impactos e efeitos da pandemia.

  • Mais de 8 mil cidadãos não têm casa, em Portugal, vivendo em Centros de Acolhimento ou de Apoio ou na rua, porque muitos perderam, desde março deste ano, o emprego, os rendimentos e a sua subsistência. Só na Europa, são mais de 700 mil.
  • Mais de 2 milhões e 200 mil portugueses vivem no limiar da pobreza ou em exclusão social.
    Portugal é o 10.º país com maior percentagem da população (21,6%), entre os 27 da União Europeia (com uma média de 21,1%).
    Mas não se pense que esta realidade contempla apenas pessoas desempregadas. Cerca de 9,7% dos portugueses empregados não alcança rendimentos anuais que permitem superar o limiar da pobreza.
  • Segundo os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), no final do 3.º trimestre (setembro) a taxa de desemprego situava-se nos 7,8%, registando mais de 400 mil portugueses sem emprego (um aumento de 45% em relação ao final do 2.º trimestre - junho/2020).
    Já por comparação homóloga ao 3.º trimestre de 2019, a população empregada diminuiu cerca de 3% (menos 147,9 mil pessoas).
  • A Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho divulgou os dados dos primeiros 9 meses deste ano que, apesar dos apoios ao emprego lançados pelo Governo, indicam que foram registados 584 despedimentos colectivos, dos quais 234 por microempresas, 248 por pequenas empresas, 79 por médias empresas e 23 por grandes empresas. Ou seja, 83% dos procedimentos foram feitos por micro e pequenas empresas, que são a grande fatia do tecido empresarial do país.
  • Segundo o Eurostat, entre abril e junho deste ano, a pandemia colocou Portugal no pior dos cenários europeus no que diz respeito à criação de novas empresas ou de insolvências.
    Portugal liderou, neste período, a tabela dos países da União Europeia com maior quebra no número de novos registos de empresas (-48,2%).
    No caso de declarações de falência, apenas 3 países contrariaram a tendência europeia: o número de insolvências aumentou na Polónia (+19,8%), na Estónia (+14,7%) e em Portugal (12,9%). Até novembro, o país registou 23.210 dissoluções e 6.605 insolvências.
  • Se as famílias e as empresas estão piores, o país não poderia, no seu todo, ficar alheado desta crise. pelo quarto mês consecutivo (novembro) a dívida pública (sem o sector financeiro) aumentou e fixou-se na ordem dos 740 mil milhões de euros, representando 361,6% do Produto Interno Bruto (PIB).

Este pode ser, por força das medidas de restrições e dos cuidado com a pandemia um Natal diferente, particular e peculiar.
Mas não deixa de ser, face à grave crise que o país e o mundo atravessam, um Natal bem real para muitos portugueses, para as suas famílias e para muitos empresários e as suas empresas.

Um Natal bem real e triste.

Pobreza.jpg

(créditos da foto: Manuel Mendonça, Folha do Domingo - Diocese do Algarve)