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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Vitória em dose quádrupla...

no dia 31 de janeiro de 2022, voltar-se-ão, de novo, os focos para Rui Rio

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(crédito da foto: José Coelho/LUSA, in SIC Notícias)

Apesar das circunstâncias pródigas em "matéria de facto" que foram surgindo, adiei, por várias vezes, abordar as eleições internas do PSD, ou, dito de outra forma, as históricas e amiúdes 'facadas nas costas' que alimentam o tradicional 'ninho de víboras' que tão bem caracteriza o adn do partido.

Fui adiando, alimentando a perspectiva do que seriam os resultados das directas, que se realizaram ontem, o que condicionaria, a partir desse momento, quer a análise aos resultados, quer a forma como encararia o partido (não a minha convicção de princípio e ideológica da social-democracia e da importância relevante do centro político na democracia portuguesa).

O portal do partido, que torna público o apuramento dos resultados eleitorais (faltando apenas a contabilização de 3 secções de voto: Ferreira do Alentejo/Beja, Alpiarça/Santarém e Monforte/Portalegre, sem impacto no apuramento final), indica que Rui Rio venceu Paulo Rangel com 52.46% contra 47.54% dos votos expressos (quase 2.000 votos de diferença). Ou seja, Rui Rio vence as eleições internas do PSD, por maioria, e mantém a liderança do partido, tornando-se o natural candidato dos sociais-democratas a Primeiro-ministro, em janeiro de 2022.

Importa, assim, avaliar os resultados com quatro leituras.

1. Com este resultado, Rui Rio confirma uma inequívoca veia vencedora e uma inquestionável capacidade de luta e de ultrapassar as adversidades, tal como, em 2020, frente a Luís Montenegro (53.21% contra 46.79%) e tal como, em 2019, quando enfrentou a "revolução interna" (eufemismo para "golpe de estado interno").
A sua postura e ética política, a defesa dos interesses do país e da sociedade acima de qualquer outro interesse (tão preconizado na consciência política de Sá Carneiro: «primeiro, Portugal; depois, o partido; por fim, a circunstância pessoal de cada um de nós»), a perseverança na defesa dos princípios e valores da democracia, da república e da vivência política, mereceram, uma vez mais, a confiança das bases do partido (cada vez mais diferenciadas das elites das estruturas e do aparelho) e merecerão, também, a confiança de uma parte da sociedade e do eleitorado não militante no dia 30 de janeiro de 2022.

2. Continuando a análise, é precisamente este ponto que importa igualmente relevar. Pela segunda vez, exposto à avaliação interna, e também, pela segunda vez, fruto apenas da ambição desmedida pessoal pela cadeira do poder (sim... a liderança do PSD, independentemente da sua condição de oposição, continua a ser inquestionavelmente apetecível), Rui Rio consegue ser reeleito pela maioria dos militantes votantes, o que legitima a sua condição de líder e relega para a condição de perdedor (com toda a medição da palavra e do contexto) todo o movimento oposicionista, ao qual a essência da democracia apenas serviu de pretexto e de desculpa para uma inexplicável e inqualificável usurpação do poder, quando todo o recente histórico (quer a conjuntura política, quer os resultados eleitorais das últimas autárquicas) nada o justificaria.
Basta tomarmos como exemplo o colossal erro estratégico de Paulo Rangel e da sua estrutura apoiante na teimosia da realização, nesta data, e repito nesta data (para que não venham as virgens ofendidas falar de atropelos à democracia e ao pluralismo) das eleições e do congresso. Nada, mas mesmo nada, nem a própria defesa da democracia, invalidaria que as directas e o congresso pudessem acontecer após as legislativas de 2022, aproveitando, o partido, para fazer a própria avaliação dos resultados eleitorais. A menos que Rangel e as suas 'tropas' temessem um bom resultado de Rui Rio e do Partido a 30 de janeiro de 2022. Entretanto, o PSD andou perdido, e ainda andará até ao congresso, com quezílias internas, em vez de focado no país e nas legislativas. A factura virá depois... entretanto, António Costa e o PS foram acompanhando o "filme político" de poltrona e pipocas.

3. A vitória de Rui Rio foi também a vitória do Partido de Sá Carneiro, da Social-Democracia e dos Portugueses (país e sociedade).
O PSD nunca foi, não é, e, se no futuro, vier a ser será a sua extinção (enquanto PPD-PSD), um partido "do protesto", do contra, da incoerência política e programática... do bitaite e da traulitada junto a qaulquer púlpito, microfone ou câmara de televisão. O PSD foi, desde a sua origem, um partido de coerência e consistência política, de ideologia sustentada na oportunidade individual e na responsabilidade social do Estado, duma economia que balança a oportunidade e o empreendedorismo do sector privado com a importância colectiva e equatitária do sector público.
Mas o PSD também é, sempre foi, um partido do Centro ideológico. Desta forma, o resultado eleitoral de Rui Rio afasta o fantasma do regresso do dispensável, escusado e desnecessário passismo e cavaquismo.
O país precisa, face aos tempos que vivemos e aos desafios que se colocam, bem como às oportunidades que nos batem à porta, de um centro político/ideológico forte, capaz de promover o bem estar social, desenvolver a economia, valorizar o emprego, capacitar os pilares da sociedade: educação, saúde, justiça e equidade social.
Rui Rio sempre afirmou, desde o dia que chegou à presidência do partido, que a redefinição do PSD como um partido do centro ideológico (afastando as tentativas de (neo)liberalização programática do PSD), era um dos principais objetivos da sua liderança e a arma política que sustentaria toda a estratégia de oposição. Sai o líder reforçado, sai a social-democracia valorizada... ganha o país e os portugueses no próximo confronto eleitoral com o PS e, manifestamente, para o futuro da governação de Portugal.

4. Por último. É histórico... faz parte dos anais da história do partido: não há bela sem senão.
Olhemos para o essencial da declaração de derrota de Paulo Rangel: tudo e o seu contrário. Do apelo à unidade para o combate eleitoral, surge logo a primeira farpa, marcando, desde já, a posição de quem saiu derrotado (o sabastianismo de "Montenegros" e o centralismo lisboeta dos "Pinto Luzes e Moedas": eles vão andar por aí e à espera de espetar o próximo arpão/faca nas costas). Paulo Rangel terminou com dois recados de "mau perdedor": o resultado alcançado por Rui Rio pode não evitar uma nova onda de contestação interna daqui a dois meses e o esperar que haja cedências (tachos) na elaboração das listas à Assembleia da República. Primeiro a facada (traição política, porque nada mudou em Rui Rio, nem no PSD desde 2019/2020 quando Rangel rasgou as vestes a favor de Rui Rio), depois a azia da derrota e, agora, os "beijos de Judas".

E tudo isto é tão, mas tão, PPD-PSD... há coisas que muito dificilmente irão mudar. A tradição conflituosa e fracturante interna ainda é o que sempre foi.

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